Mercado recebe arcabouço com cautela e considera texto apresentado ao Congresso “sem novidades”

Investimento, debêntures, mercado financeiro

O texto do arcabouço fiscal foi recebido de forma mista por agentes de mercado nesta terça-feira (18). Por um lado, o desvendamento do “segredo” guardado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, trouxe um certo alívio à ansiedade de quem esperava há meses pelo dispositivo que visa substituir o Teto de Gastos. Por outro, segundo analistas ouvidos pelo InfoMoney, a revelação dos detalhes da âncora fiscal gerou apatia, com especialistas dizendo que a apresentação não mudou muita coisa, ou até deixou a desejar. Por ora, cautela é a palavra de ordem.

“A apresentação do texto do arcabouço fiscal não ajudou muito. No final das contas, o projeto continua muito vago e não interessa às principais preocupações do mercado”, diz Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos. Segundo ele, o mercado deve ter uma receptividade neutra em relação ao projeto. “Imagino que os investidores não vão ficar animados”.

Komura destaca que o texto continua bastante focado nas receitas, que são coisas que não ficam dentro do controle do governo. “É muito mais difícil montar um arcabouço em cima do que não se tem controle. E com relação aos gastos, é possível perceber que não há nenhum tipo de propostas que mostre o compromisso fiscal”.

Carlos Hotz, planejador financeiro e sócio-fundador da A7 Capital, faz coro com Komura. “O arcabouço não trouxe muitas novidades. Algumas métricas e informações vão ser anexadas à LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) ainda. E o governo segue tendo que apresentar formas de atingir as receitas previstas, já que o mercado continua vendo como muito ousada a estimativa de arrecadação”, pondera.

Hotz diz que o mercado tem bastante dúvida sobre o que de fato o arcabouço conseguirá trazer de responsabilidade fiscal, e se o governo vai ceder em outros pontos. Ainda assim, segundo ele, a sinalização mínima de responsabilidade e direcionamento de caminho econômico ajudará na tese de queda dos juros.

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Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, enxerga pontos positivos na nova regra fiscal. “No artigo três, o governo menciona que o Poder Judiciário terá limite igual ao do Executivo. Isso mostra que há uma busca para limitar gastos e não só controlar receita, ou seja, a busca pelo aumento da receita para fazer um equilíbrio fiscal nos próximos anos”.

Mas, Cruz faz uma ressalva: “é claro que não é a regra fiscal dos sonhos, que o mercado imaginava, que mexeria em alguns vespeiros de gastos. Mas também não é uma ‘regra dos pesadelos’. Trata-se de um projeto que está buscando chegar ao equilíbrio fiscal”.

O especialista diz que os economistas com os quais tem conversado escreveram vários artigos um pouco duros sobre o arcabouço fiscal, questionando se ele poderá ser sustentável. Por outro lado, os gestores receberam a proposta de forma mais positiva.

“Não houve surpresa. O arcabouço cumpre o papel que o mercado imaginava, de ter uma uma âncora frágil, mas crível, no sentido de que ela deixa a trajetória da dívida numa tendência de não ser explosiva, além de trazer parâmetros para a despesa. A tendência é de que os juros continuarão fechando (caindo)”, ressalta Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.

O próximo passo é o empenho do governo para o texto passar no Congresso. Para Costa, do jeito que o projeto está, não deverá ter muitas alterações na tramitação, que deverá acontecer sem “ruídos”. “Deve levar até três meses para a tramitação completa na Câmara e no Senado, o que é positivo para o mercado”.

Entretanto, ressalta  o especialista, isso não significa que o Banco Central vá cortar os juros imediatamente. “O BC pode analisar o projeto final e os efeitos para o cenário de inflação e só aí tomar a decisão, se é possível começar o ciclo de corte de juros “, detalha. “Em algum momento no segundo semestre poderá ser possível que esse ciclo de corte seja iniciado pelo BC”.

Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, relembra que o texto ainda pode mudar. “É preciso acompanhar como Câmara e Senado vão analisar a proposta, se vão aceitar do jeito que está, ou irão modificar. É muito cedo para falar algo. No papel é tudo ‘bonito’, mas as várias despesas que foram retiradas chamam a atenção”.

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Neide Martingo

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