Amorim rebate Casa Branca e diz ser “absurdo” afimar que Brasil “papagueia” Rússia

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O assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim, classificou nesta terça-feira de “absurda” a declaração do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca de que o Brasil “papagueia” a posição russa sobre a guerra da Ucrânia.

Em entrevista à GloboNews, Amorim disse que o palavreado usado pelo porta-voz norte-americano é inadequado e disse que Lula e o governo brasileiro condenaram a invasão da Ucrânia pela Rússia e o uso da força sem autorização da Organização das Nações Unidas (ONU), assim como a imposição de sanções também sem aval da ONU a Moscou que, de acordo com ele, prejudica outros países.

“É absurda porque o Brasil não tem as mesmas posições da Rússia. O Brasil defende a integridade territorial da Ucrânia como defende a integridade territorial de todas as nações, o Brasil é contra o uso da força, sobretudo contra o uso unilateral da força, como é o caso atual e foi o caso da invasão do Iraque (pelos EUA em 2003), então já é absurdo”, disse.

“Imagina se um porta-voz aqui do Brasil dissesse que o Biden papagueia não sei quem. Estaria em todos os jornais que nós não somos diplomatas e que nós não sabemos nos relacionar internacionalmente. Mas eu não vou dizer isso, só estou dizendo que é um absurdo usar esse tipo de palavreado.”

As declarações de Kirby foram feitas após Lula afirmar no domingo que a decisão da guerra foi tomada por dois países, mais uma vez colocando a Ucrânia como também responsável pelo conflito iniciado em fevereiro do ano passado quando tropas russas invadiram o território ucraniano, e depois de o presidente brasileiro receber o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, na segunda-feira.

Amorim se recusou a responder se concordava com a declaração de Lula sobre se a guerra havia sido decisão de dois países, mas concordou com outra frase do presidente de que EUA e países da União Europeia contribuem para o prolongamento da guerra ao fornecer armas para a Ucrânia.

O assessor de Lula, que esteve recentemente em Moscou onde se reuniu com o presidente russo, Vladimir Putin, defendeu a proposta de Lula da criação de um grupo de países para mediar negociações de paz e defendeu que ambos os lados no conflito façam concessões.

“Enquanto não houver conversas, não haverá paz. A paz ideal para os ucranianos e a paz ideal para os russos não ocorrerá. Tem que haver concessões”, afirmou Amorim, que já atuou como ministro das Relações Exteriores nos mandatos anteriores de Lula.

Amorim foi indagado se, após sua visita a Moscou e vinda de Lavrov ao Brasil, estaria disposto a visitar Kiev ou se haveria a possibilidade de o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, vir ao Brasil e ser recebido por Lula. O assessor disse estar aberto a conversar com todos os lados, mas disse que uma eventual visita a Kiev dependeria do objetivo da viagem.

“A questão de ir ou não lá, tem que saber qual é o objetivo. Se o objetivo é conversar e procurar soluções, estou pronto a ir lá, dependeria de uma ordem do presidente Lula, naturalmente, mas estou pronto a ir lá. Agora, se ir lá só para mostrar (a guerra), eu sei como são as coisas, já vi pela televisão inúmeras guerras, é uma tragédia, não vou diminuir em nada a importância.”

A Ucrânia tem repetidamente dito que não discutirá a paz ou um cessar-fogo até que as tropas russas deixem cada centímetro de seu território reconhecido internacionalmente, com o presidente Volodymyr Zelenskiy dizendo que qualquer trégua temporária simplesmente permitiria à Rússia se reagrupar para um futuro ataque.

Já o Kremlin diz que o plano proposto pelo Brasil merece atenção e tem afirmado que está aberta a conversações, mas deixou claro que estas só se realizariam em seus próprios termos. Diz que a Ucrânia deve aceitar as “novas realidades” no terreno — especificamente sua anexação de quatro territórios ucranianos.

Enquanto Amorim falava à Globonews, Lula repetia durante brinde pela visita do presidente romeno, Klaus Werner Iohannis, ao Brasil que o país defende a integridade territorial da Ucrânia.

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Reuters

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