Físico vai ver eclipse solar anular no mesmo estado onde pai acompanhou eclipse total há 83 anos


Carioca Hélio Vital é considerado um dos maiores especialistas do Brasil em eventos como o eclipse e conta como pai, de família paraibana, já acompanhou, em 1940, um eclipse total do sol, e como o fenômeno de 2023 é tão raro quanto o daquela época. A lua passa entre o sol e a terra durante eclipse solar anular REUTERS/Tim Chong Imagine ser um apaixonado por astronomia e, dentro da própria família, ter duas gerações de pessoas que acompanharam eventos astronômicos considerados raros e super difíceis de se acompanhar. Esse é o caso de Hélio Vital, um dos maiores especialistas em eclipse no Brasil, que teve o pai presenciando um eclipse total há 83 anos e, agora, como profissional, vai dar seguimento à “tradição” vendo o “anel de fogo” em 2023, na Paraíba, neste sábado (14). Compartilhe esta notícia pelo Whatsapp Compartilhe esta notícia pelo Telegram Em conversa com a reportagem do g1, o especialista formado em física e com doutorado em energia nuclear, contou que o último eclipse de caráter central, ou seja, que pode ser total ou anular, que teve boa visibilidade no estado, foi em 1940, quando o pai tinha 7 anos. O filho que hoje é apaixonado por astronomia disse que a história do pai marcou a própria memória dele. “Ele morava em Cabedelo e me contou que realmente o ambiente, de repente, ficou escuro, e o comportamento dos animais se modificou. As galinhas voltaram para o galinheiro, se esconderam, e as pessoas na rua se surpreenderam, porque a queda na iluminação foi muito grande”, explicou. Hélio diz que, mesmo com tanto tempo depois daquele episódio ter acontecido, devido ao avanço tecnológico, é possível aferir datas, horários e até o tempo em que o encobrimento total do sol aconteceu na localidade em que o pai estava no dia 1º de outubro de 1940. “Foram mais de 3 minutos de totalidade. Foi um eclipse total do sol, que aconteceu de manhã. Esse foi o último eclipse central, quer dizer, ou anular ou total. Anular como esse que vai ser agora, que o sol vira um anelzinho luminoso. E o total, que a Lua é suficientemente grande, então quando passa na frente do sol, oculta totalmente o disco solar”, disse. O especialista ressalta também que o eclipse total de 1940 que aconteceu no estado foi o último do tipo central, que é considerado mais raro, pela conjuntura de fatores que são necessários para uma boa visualização. Oitenta e três anos depois, outro evento, desta vez um eclipse anular, vai poder ser visto tranquilamente na Paraíba. “Depois eu analisei os históricos de eclipses oficiais e verifiquei essas circunstâncias sobre o eclipse total do sol que aconteceu em 1940”. Eclipses não são raros Hélio Vital diz que, de maneira geral, eclipses não são fenômenos raros que demoram para acontecer, pelo contrário, existe uma alta incidência de eventos como esse em todo o mundo, no entanto, o que é difícil é estar em locais onde a visibilidade dos eclipses é boa no momento certo, como é o caso do eclipse solar total de 1940 e o anular deste ano. “Eclipses solares em si não são raros, temos uma média de 2,4 eclipses do sol e 2,4 eclipses da lua por ano. Mas, leva tanto tempo para vermos um eclipse solar porque um total ou anular, abrange regiões muito pequenas da superfície da Terra. Então quando eles ocorrem, os vemos como eclipses parciais. Pra vir como total ou anular as chances são muito inferiores, é por isso que leva tanto tempo”, explica. Linhas azul e vermelha delimitam área de visibilidade do eclipse solar anular em 2023 na Paraíba Reprodução/Sollarium Nesse sentido, o especialista diz que eclipses desses dois tipos demoram para acontecer em questão de décadas ou até séculos, mas no caso da Paraíba, 83 anos separaram dois eventos dessa magnitude, o que pode ser considerado um privilégio, segundo ele. “Há 83 anos, João Pessoa e a Paraíba puderam ver um eclipse total, agora vão ver um anular e, daqui a 22 anos, vamos ter um outro evento desse, um total. Isso é realmente fantástico, em 105 anos três eclipses que a faixa central passou pela capital e o estado”, disse. “Experiência mística” Pessoas tiram fotos com seus smartphones enquanto monitoram o eclipse solar anular na Arábia Saudita REUTERS/Hamad I Mohammed De acordo com Hélio Vital, que tem uma vasta experiência em visualizar esse tipo de evento, mesmo não sendo do tipo central, o momento em que acontecem é especial e fica marcado na memória. “Já observei vários eclipses, principalmente os eclipses da lua. Em 1995, observei o eclipse anular que passou sobre Fortaleza (Ceará) e foi muito bonito. Um ano antes estava em Foz do Iguaçu (Paraná) para observar um eclipse total do sol, e foi surreal. É algo emocionante, impressiona a beleza, o encantamento que envolve. Parece uma experiência mística”, ressalta. Com riqueza de detalhes, o especialista pontua características que costumeiramente o observador pode ver no momento dos eclipses, como o anular que vai acontecer dia 14 de outubro. “O ambiente assume uma coloração muito estranha, metálica, de uma certa cor exótica, e o sol parece que esfria e ao mesmo tempo aparece uma coroa solar, que é dinâmica, e parece que a qualquer momento pode haver uma surpresa, porque você sente que aquilo está acontecendo, não é estático”, relata. Neste sábado, Hélio e um grupo de especialistas vão acompanhar o evento na cidade de Araruna, no interior do estado, onde durante o período do eclipse vai ser realizado o Encontro Nacional de Astronomia. Área descampada para ver o eclipse Praia do Jacaré pode ser opção para visualização do eclipse no litoral Krys Carneiro/G1 Em recomendação para ver o fenômeno do sábado, o especialista diz que além dos óculos de proteção adequados para visualização, é necessário também escolher bem o local para o momento tão esperado. "Se houver um edifício ou uma casa, até uma árvore alta próximo do local onde vai ocorrer a observação, seria uma boa opção", ressalta. Segundo ele, isso acontece porque o sol vai estar baixo no horizonte, então locais altos ou descampados, sem interferências visuais, são os mais recomendados para o evento. "O sol vai estar relativamente baixo no máximo do eclipse, então é importante que as pessoas busquem um local em que possa ser observado o horizonte oeste sem obstrução de casas, prédios ou qualquer tipo de elevação, que possa cobrir o sol. Então precisa ser um local descampado em direção ao oeste". Outros cuidados indicados para visualização são também os óculos apropriados, os filtros para equipamentos de observação e não olhar por longos períodos para o sol, porque caso o contrário lesões irreversíveis podem ser causadas e até mesmo chegar ao estado de não enxergar mais qualquer imagem. *Sob supervisão de Jhonathan Oliveira Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba
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