Hospital Padre Zé: padre criava mais de 20 cachorros de raça europeia em imóvel alvo de operação


O canil com vários Lulu da Pomerânia, que custam até R$ 8 mil, foi encontrado em uma granja no Conde. Caseiro confirmou que o local pertence ao padre Egídio de Carvalho, principal alvo da operação Indignus, que investiga desvios no hospital Padre Zé. Granja de padre Egídio, ex-diretor do Hospital Padre Zé, em João Pessoa Reprodução: TV Cabo Branco/Ana Beatriz Rocha O padre Egídio de Carvalho criava mais de 20 cachorros da raça europeia Lulu da Pomerânia em uma granja, no município do Conde, na Grande João Pessoa. Os filhotes da raça podem ser encontrados por até R$ 8 mil em anúncios na internet. O imóvel foi um dos 11 alvos da operação 'Indignus', deflagrada nesta quinta-feira (5) para investigar desvios de recursos públicos do Hospital Padre Zé. A informação foi confirmada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado do Ministério Público da Paraíba (Gaeco/MPPB). Entenda operação que investiga desvio de verbas e tem padre como principal suspeito De acordo com informações da TV Cabo Branco, diversos artigos de luxo foram encontrados na granja, incluindo móveis, eletrodomésticos, itens de colecionador e o canil de cães de luxo. Um caseiro foi encontrado no local e confirmou que o imóvel pertencia ao padre, mas ele não frequentava o local há um certo tempo. Um fogão avaliado em 52 mil reais também foi encontrado durante as buscas e apreensões nos 11 imóveis alvos da operação. O item é produzido na Itália e o valor da peça é informado no site da fabricante. Fogão encontrado em um dos imóveis alvo da Operação Indignus Reprodução Também foi encontrado durante a operação uma caixa de vinhos tintos de uma marca italiana. Cada produto é vendido por cerca de R$ 1.600 em anúncios na internet. Caixa de vinho encontrada durante Operação Indignus Reprodução A aperação Indignus cumpriu 11 mandados judiciais de busca e apreensão , em endereços de três investigados, sendo oito em João Pessoa, um no Conde e dois na cidade de São Paulo. Além do padre Egídio, foram alvos da operação Jannyne Dantas, ex-diretora administrativa do Hospital Padre Zé, e Amanda Duarte, ex-tesoureira da unidade hospitalar filantrópica. O padre Egídio foi procurado pelo g1 e confirmou estar ciente da operação. A defesa dele disse que apresentou uma petição ao Gaeco afirmando que o padre deseja ser ouvido pelo Ministério Público em audiência. O religioso está em Recife, capital de Pernambuco. O g1 entrou em contato com Jannyne para obter algum posicionamento, mas não obteve retorno. Amanda Duarte não foi localizada. Entenda a Operação Indignus Uma operação conjunta deflagrada para investigar um suposto esquema de desvio de verbas do Hospital Padre Zé, em João Pessoa, cumpriu 11 mandados de busca. O principal alvo da investigação é o padre Egídio de Carvalho, ex-diretor do hospital. Padre Egídio de Carvalho Neto, ex-diretor do Hospital Padre Zé TV Cabo Branco/Reprodução A investigação aponta uma 'confusão' entre os patrimônios da entidade e do padre. E apura, entre outras coisas, a aquisição de imóveis de alto padrão por parte do religioso, com recursos do hospital. O Padre Zé é um hospital filantrópico e recebe recursos por meio de convênios com gestões públicas, emendas parlamentares e também doações privadas. A operação ‘Indignus’ contou com a participação do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado do Ministério Público do Estado da Paraíba (Gaeco/MPPB), da Polícia Civil, da Secretaria de Estado da Segurança e da Defesa Social (SEDS), da Secretaria de Estado da Fazenda da Paraíba (Sefaz) e da Controladoria-Geral do Estado da Paraíba (CGE). "Fora as circunstâncias que envolvem corrupção, a gente tem outras circunstâncias que envolvem coisas muito mais graves. É necessário que a gente tenha essa ideia e que a gente consiga ter elementos para filtrar aquelas pessoas que de fato se preocupam com os miseráveis e excluídos, e aquelas outras que usam essas pessoas como instrumento de manobra para suas ganâncias e questões de escala monetária", afirmou o promotor Octávio Paulo Neto, coordenador do Gaeco. O que a operação investiga? Hospital Padre Zé, em João Pessoa Hospital Padre Zé/Divulgação As investigações do caso descrevem possíveis desvios de recursos públicos destinados a fins específicos na gestão do padre Egídio no Hospital Padre Zé, em João Pessoa. As irregularidades também ocorriam no Instituto São José, entidade mantenedora do hospital, e na Ação Social Arquidiocesana (ASA), que também tinham Egídio como responsável. A investigação aponta para uma absoluta e completa confusão patrimonial entre bens e valores de propriedade das entidades com os bens do padre Egídio. Destaca também uma considerável relação de imóveis atribuídos, aparentemente sem forma lícita de custeio, quase todos de elevado padrão, adornados e reformados com produtos de excelentes marcas de valores agregados altos. Segundo a investigação as condutas indicam a prática, em princípio, dos delitos de organização criminosa, lavagem de capitais, peculato e falsificação de documentos públicos e privados. Quando começou a investigação? A operação ‘Indignus’ foi deflagrada na manhã desta quinta-feira, 5 de outubro, mas as irregularidades no Hospital Padre Zé começaram a ser investigadas quando mais de 100 aparelhos celulares foram furtados da instituição. Esse caso foi tornado público em 20 de setembro. A denúncia, no entanto, foi feita em agosto e imediatamente um inquérito policial foi aberto. Um suspeito, inclusive, chegou a ser preso, mas responde em liberdade e cumpre medidas cautelares. Padre Egídio deixou a direção do hospital logo após a denúncia sobre o furto de celulares. Os celulares foram doados pela Receita Federal, oriundos de apreensões, e seriam vendidos em um bazar solidário para comprar uma ambulância com UTI e um carro para distribuição de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade. No desenrolar das investigações do furto, a Arquidiocese da Paraíba anunciou que estava afastando o padre Egídio de qualquer ofício ou encargo eclesiástico. Na prática, ele fica proibido de ministrar missas ou qualquer outro sacramento da igreja. Após o furto dos celulares, uma denúncia anônima foi apresentada ao Ministério Público da Paraíba apontado uma série de irregularidades na gestão do padre Egídio. Na terça, 3 de outubro, uma força-tarefa composta por órgãos públicos da Paraíba foi formada para investigar irregularidades no Hospital Padre Zé. O Hospital Padre Zé, em João Pessoa, afirmou que constatou inúmeras dívidas que comprometem sua funcionalidade após avaliar a situação operacional, funcional, contábil e financeira da instituição. A gestão disse que a primeira providência foi solicitar ao Ministério Público da Paraíba uma ampla auditoria em todas as contas, contratos, convênios e projetos do hospital. Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba
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