Candidatos presidenciais da Argentina realizam primeiro debate e Milei nega mortes na ditadura
Não houve grandes surpresas no primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República da Argentina. O ministro da Economia, Sergio Massa, polarizou com a proposta de “capitalismo libertário” do candidato da extrema direita, Javier Milei. Seu principal apelo foi no sentido da defesa das empresas públicas e dos direitos conquistados. Por seu turno, a conservadora Patricia Bullrich e Milei criticaram a inflação e descreveram os seus planos de ajuste. Durante a discussão sobre direitos humanos, Milei negou que houve 30 mil desaparecidos.
A jornalista Melissa Molina escreve no jornal Página 12 que o tom do debate foi “controlado e previsível”, sem “grandes surpresas ou choques”. Sergio Massa foi o mais visado, seguido de Javier Milei.
“Não vá às urnas com raiva ou medo, vá com esperança”, disse Massa. Ele foi sólido, segundo a jornalista.
Durante a discussão sobre economia, Milei afirmou: “se continuarmos assim em 50 anos seremos a maior favela do mundo” e prometeu “reduzir os gastos, reduzir os impostos, privatizar as desastrosas empresas estatais, desregulamentar a economia e fechar o banco central”. Além disso, acrescentou que se lhe derem 20 anos o país será como a Alemanha e 35 como os Estados Unidos. Ele foi criticado por Massa de pretender privatizar a empresa de petróleo YPF e por querer “que cada filho de trabalhador pague a universidade e o ensino secundário e um modelo de dolarização que foi aplicado no Zimbábue, El Salvador e Equador”.
Massa, no momento de explicar sua proposta econômica, aceitou que “houve erros deste governo que prejudicam as pessoas e que a Argentina tira mais dólares do país do que traz”. Ele propôs uma moeda digital argentina que permita o comércio global junto com uma lei de lavagem que permita a quem tem dinheiro no exterior trazê-lo; disse que aumentará as penas para os evasores que fogem para não pagar impostos e promover um programa de desenvolvimento das exportações. “Devemos deixar de ser mendigos para sermos soberanos”, observou. O ministro candidato lembrou ainda que a dívida com o FMI foi trazida pelo Macrismo, referindo-se ao ex-presidente conservador Maurício Macri.
Por sua vez, Patricia Bullrich propôs “colocar ordem desde o primeiro dia com um programa claro e concreto que resolva os problemas subjacentes; uma equipe econômica coerente e honesta e a decisão política de fazer as mudanças que a Argentina precisa e acabar com a inflação.
Durante a discussão sobre Direitos Humanos, Milei leu uma nota: “Fomos classificados como fascistas, o que não tem nada a ver com isso. Valorizamos a visão da verdade e da justiça, e a primeira verdade é que não houve 30 mil desaparecidos. As forças do Estado cometeram excessos, mas os terroristas de Montoneros e do ERP torturaram pessoas, mataram e cometeram crimes contra a humanidade. Não concordamos com o trabalho dos Direitos Humanos”. Em uma única frase resgatou os principais argumentos do próprio general ditador Jorge Rafael Videla para explicar os crimes contra a humanidade: que a repressão ditatorial foi uma “guerra” e que as torturas, assassinatos e desaparecimentos foram simples “excessos” de alguns soldados e não um plano de extermínio conforme determinado pela justiça.
Já Massa afirmou: “O desafio há 40 anos é cuidar do legado da memória, da verdade e da justiça, um caminho que iniciamos com o julgamento da junta e terminamos com a condenação dos repressores”. Ele destacou que as políticas de direitos colocaram a Argentina em um lugar de referência para o mundo inteiro. Finalmente, insistiu mais uma vez em apelar a um governo de unidade nacional. “Ninguém ficará surpreso se eu adicionar radicais, liberais e profissionais ao meu governo.” E fez um apelo no final: “Não vá às urnas com raiva ou medo, vá com esperança”.
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