Cenário para governabilidade piora após crise envolvendo MP dos ministérios, e analistas estimam base aliada de Lula com 190 deputados

Lula Lira Pacheco

Passados os primeiros cinco meses de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta o pior momento da relação com o Congresso Nacional desde que retornou ao Palácio do Planalto para seu terceiro mandato. É o que indica a 45ª edição do Barômetro do Poder, levantamento feito mensalmente pelo InfoMoney com consultorias e analistas independentes sobre alguns dos principais temas em discussão na política nacional.

O estudo, realizado entre os dias 30 de maio e 1º de junho, mostra que, dividindo os 513 assentos da Câmara dos Deputados em três grandes grupos (alinhados com o governo, de oposição e incertos), a média das respostas dos analistas consultados para o tamanho da base aliada de Lula seria de 190 deputados federais.

O número corresponde a 37% da Casa e seria suficiente apenas para blindar o mandatário de processos de impeachment, reforçando uma percepção de fragilidade na imposição de uma agenda legislativa. Trata-se do menor patamar já registrado na atual administração e uma queda de 36 parlamentares em comparação com os números da edição anterior.

As estimativas tiveram elevada variação, sendo 118 assentos a resposta mais baixa e 280 a mais alta. A mediana das projeções, por sua vez, ficou em 197.

A revisão de cenário pelos analistas coincidiu com a crise enfrentada pelo governo para aprovar a medida provisória que tratava da reestruturação dos ministérios (MPV 1.154/2023). O texto avançou nas duas casas legislativas no último dia de vigência, sofreu importantes alterações durante sua tramitação e foi usado como veículo de insatisfação dos parlamentares com a articulação política do Palácio do Planalto.

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De acordo com o Barômetro do Poder, a média das respostas dos analistas consultados para a oposição ao atual governo ficou em 143 – recuo de 11 assentos em comparação com os resultados de abril. Já os incertos saltaram de 133 para 180 no período. O que indica um terreno mais arenoso para a construção de uma base de apoio ao governo e maior necessidade de os operadores políticos do Palácio do Planalto conduzirem negociações a cada nova proposição.

No caso das estimativas para o tamanho da oposição, as respostas flutuaram entre 102 e 185 assentos na casa legislativa. Já os incertos oscilaram de 79 a 275, na mais larga diferença entre as avaliações dos especialistas. As medianas para os dois grupos foram de 143 e 164 deputados federais, respectivamente.

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O Barômetro do Poder mostra, por outro lado, que a avaliação dos analistas políticos é de um ambiente mais favorável para Lula no Senado Federal, onde as projeções sofreram alterações bem menos significativas.

De abril para cá, a média das estimativas para a base aliada na casa legislativa oscilaram de 38 para 37 assentos. Mesmo movimento observado nas projeções para a oposição, que foi de 25 para 24. Já os incertos avançaram de 18 para 20.

No caso do primeiro grupo, as respostas flutuaram de 22 a 50, com uma mediana de 38 senadores. Já para os opositores, a variação foi de 19 assentos (11 a 30), e para os incertos, de 21 (de 8 a 29). As medianas nesses dois últimos casos foram de 25 e 21, respectivamente.

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“A votação na Câmara do novo regime fiscal (e dos destaques apresentados pela oposição) permitiu mensurar com mais precisão o tamanho real da base governista naquela casa. Nesta configuração, o governo Lula por enquanto tem apoio majoritário somente na agenda econômica. A situação parece ser um pouco melhor no Senado, mas deve-se aguardar votações como a nomeação dos novos diretores do BC, além do próprio marco fiscal”, pontuou um dos analistas.

Conforme acordado previamente com os participantes, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e dos comentários.

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O Barômetro também mostrou que apenas 4% dos analistas políticos consultados avaliam como “boa” a relação entre Executivo e Legislativo – grupo que chegou a concentrar 85% das respostas em fevereiro. Já os que classificam como “ruim” saltou de 0% para 46% em um mês, empatando com aqueles que veem a relação como “regular”.

Considerando uma escala de 1 (péssima) a 5 (ótima), a média das respostas para a interlocução entre os dois Poderes é de 2,62 – reforçando a percepção de ambiente mais hostil a Lula no parlamento e de uma “lua de mel” que praticamente não existiu.

Apenas 8% dos entrevistados esperam uma melhora na relação entre Lula e o Congresso nos próximos seis meses. Outros 69% apostam na continuidade do quadro atual e 23% acreditam que há espaço para piorar. É o maior percentual de pessimistas desde o início do novo governo.

Questionados sobre a capacidade da atual administração em aprovar proposições no Congresso Nacional, a maioria (62%) respondeu “moderada”. Outros 38% veem condições “reduzidas” e ninguém vislumbra um ambiente de força de Lula no parlamento. Considerando a mesma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a média das respostas também ficou em 2,62.

“A tensão entre Planalto e Câmara vai aumentar em junho, piorar em julho e parar as votações a partir de agosto”, afirmou um analista político consultado pelo levantamento.

“Queda expressiva no controle do governo sobre a pauta da Câmara. Arthur Lira (PP-AL) e o ‘centrão’ têm conseguido se impor”, pontua outro especialista.

“A situação do governo no Congresso não é simples, como esperado desde a eleição de um Congresso conservador. O clima e as análises na imprensa sobre a articulação, no entanto, transparecem um ambiente pior do que se verifica na prática, quando observados os resultados nos temas prioritários para o Executivo”, pondera um terceiro participante.

Esta edição do Barômetro do Poder ouviu 10 consultorias políticas – Control Risks; Dharma Political Risk & Strategy; Empower Consultoria; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas; Ponteio Política; Prospectiva Consultoria; Pulso Público; Tendências Consultoria Integrada; e XP Política – e 3 analistas independentes – Antonio Lavareda (Ipespe); Carlos Melo (Insper); e Thomas Traumann.

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Marcos Mortari

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