Nomes para Copom reforçam corrente pró-queda do juro e indicam sucessão de Campos Neto

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou ontem a indicação de Gabriel Galípolo, seu secretário executivo, para a diretoria de Política Monetária do Banco Central. Para a outra diretoria vaga do BC, a de Fiscalização, o escolhido pelo governo foi Ailton Aquino, chefe do Departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira, ligado à diretoria de Administração do BC. As indicações, as primeiras do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, caso confirmadas no Senado, vão levar para o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC nomes que tendem a favorecer uma queda mais rápida da taxa básica de juro, a Selic, do que a composição atual do colegiado.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, a ida de Galípolo para o BC faz parte de um movimento do governo de mudar a autarquia por dentro. A indicação vem no momento em que a pressão pela redução da Selic confronta a liderança de Roberto Campos Neto, indicado pelo governo de Jair Bolsonaro e detentor de mandato até 31 de dezembro de 2024. O Copom tem nove membros com direito a voto, sendo presidido pelo chefe do BC, que tem o voto de qualidade.

Aquino, que já foi auditor-chefe do órgão, é bem avaliado, conhecido por posições técnicas, internamente. Caso confirmado pelo Senado, será o primeiro diretor negro do BC.

Mercado

Questionado sobre como seria a reação do mercado a Galípolo, o ministro da Fazenda tentou mostrar que o indicado tem a simpatia do próprio chefe do BC. Apesar disso, o dólar fechou em alta de 1,37%, cotado a R$ 5,0115. Já a Bolsa subiu 0,85% com commodities e bons resultados de bancos.

Haddad afirmou que a primeira vez que ouviu o nome de Galípolo como possibilidade de indicação para o BC foi da boca de Campos Neto. “Eu estava no G20, na Índia, fomos almoçar juntos (Haddad e Campos Neto), e foi a primeira pessoa que mencionou a possibilidade de o Galípolo ir para o BC, no sentido de entrosar as equipes do BC e da Fazenda”, afirmou o ministro, ao lembrar que Galípolo já foi presidente de banco – o Fator.

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, a indicação de Galípolo antecipa o perfil da troca na chefia do BC. “A indicação dá uma sinalização muito clara para as próximas trocas e para a própria troca de presidente (do BC) no ano que vem, que caminha para um BC mais à esquerda, pensando em quedas mais fortes de juros à frente”. Ele disse esperar que os nomes a serem anunciados trabalhem sob o ponto de vista técnico, e não político.

Para o lugar de Galípolo na secretaria executiva da Fazenda, Haddad escolheu Dario Durigan, que foi seu assessor especial na Prefeitura de São Paulo e é chefe de políticas públicas do Whatsapp no Brasil.

Até 2024, governo terá mais quatro indicações para mudar perfil do BC

Economistas ouvidos pelo Estadão disseram que a indicação de Gabriel Galípolo para a direção de Política Monetária do Banco Central (BC) sinaliza como será o perfil das escolhas do governo para ocupar a direção da autoridade monetária. O governo terá mais duas trocas para fazer até 31 de dezembro deste ano, para os cargos de Fernanda Guardado, diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, e de Mauricio Moura, diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta.

Além disso, no próximo ano, em conjunto com a escolha do novo presidente que irá suceder a Roberto Campos Neto, há outras duas trocas a serem feitas nas diretorias da autoridade.

Para Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, a repercussão da indicação de Galípolo dependerá das próximas declarações dele sobre a economia e a condução da política monetária no País.

“Vai ser importante ouvir o que ele tem a dizer na sabatina do Senado e, em particular, qual é a posição dele sobre a execução da política monetária, se ele vai professar ou não as teses da MMT (Teoria Monetária Moderna, na sigla em inglês), que tem gerado mais nervosismo no mercado”, diz Kawall.

Receio

As preocupações em torno da associação de Galípolo à MMT – teoria econômica heterodoxa que defende que países que emitem sua própria moeda sempre poderão imprimir mais dinheiro para pagar sua dívida – decorrem do histórico acadêmico do economista. No ano passado, o nome dele apareceu no texto Diretrizes de Políticas Públicas para 2023, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), ao lado do economista André Lara Resende, tido como um dos expoentes da MMT no País.

Já para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, a indicação do secretário executivo da Fazenda para o BC confirma os temores de que o governo age para ocupar o Comitê de Política Monetária (Copom) com aliados. “Está claro que ele vai para lá com uma missão: tentar interferir na política monetária hoje e, lá na frente, talvez virar presidente do BC quando Roberto Campos Neto sair”, diz. “Isso vai ser lido como sinal de que o BC pode se tornar muito mais leniente com inflação – não agora, mas em algum momento dos próximos anos.”

Para o banco Goldman Sachs, a indicação de Galípolo para o BC tem o potencial de aumentar os ruídos na comunicação do Copom no curto prazo. “Não ficaríamos surpresos se começarmos a ver decisões divididas e visões diametralmente opostas dentro do Copom sobre qual seria a posição adequada de política monetária”, escreve o diretor de Pesquisa Macroeconômica do banco para América Latina, Alberto Ramos, em relatório.

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Estadão Conteúdo

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