CPI do 8 de Janeiro deve ter efeito limitado sobre agenda do governo no Congresso, dizem analistas; risco para Bolsonaro deve ser maior do que para Lula

Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a invasão ao Palácio do Planalto (Foto: LUCAS NEVES/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO)

A criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar fatos relacionados aos atos golpistas de 8 de janeiro, que culminaram na invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, deve ter impactos limitados sobre a agenda de interesse do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional.

A avaliação é de analistas políticos consultados na 44ª edição do Barômetro do Poder, levantamento feito mensalmente pelo InfoMoney com consultorias de risco político e analistas independentes sobre alguns dos principais temas em discussão na política nacional.

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O levantamento mostra que a maior parte dos especialistas ouvidos (47%) acredita que a comissão implicará em risco moderado de atraso ou perda de ambiente político para a tramitação de proposições patrocinadas pelo governo no parlamento.

Outros 33% veem impacto potencial limitado das investigações, enquanto 20% têm avaliação oposta. Deste grupo, 13% estimam riscos altos e 7%, muito altos.

Considerando uma escala de 1 (muito baixo) a 5 (muito elevado), a média das respostas dos especialistas consultados sobre os riscos de a CPMI influenciar negativamente as pautas do governo ficou em 2,93. Já a mediana foi de 3,00.

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O sinal verde para a instalação da CPMI do 8 de Janeiro foi dado na semana passada, quando o presidente do Congresso Nacional, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), fez a leitura de requerimento entregue pelo deputado André Fernandes (PL-CE).

Inicialmente, o governo era contrário à criação da CPMI do 8 de Janeiro justamente pela preocupação de as investigações atrapalharem o andamento de agendas relevantes, como o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária.

Mas a orientação mudou após o vazamento de imagens sob sigilo do circuito interno do Palácio do Planalto na data dos atos, que mostraram o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias, e funcionários da pasta interagindo com os vândalos em tom aparentemente amistoso.

O episódio culminou na queda do ministro, que ocupava posição de confiança de Lula, e gerou a avaliação na articulação política do governo de que a instalação da CPMI seria inevitável. Agora, as lideranças partidárias trabalham para fazer suas indicações para a composição do colegiado, que terá um total de 16 deputados e 16 senadores (e igual número de suplentes), e negociam a presidência e relatoria.

“A relação entre Executivo e Legislativo terá um desafio importante, com a CPMI do 8 de janeiro. Apesar de um provável impulso à polarização, a capacidade de avaliar proposições prioritárias deve se provar relativamente alta”, projeta um especialista consultado.

“A CPI Mista tende a ser um grande tiro no pé por parte da oposição, que tanto pressionou pela sua instalação. Deve fortalecer o governo”, avalia outro analista.

“A CPI e as votações do funding do arcabouço fiscal vão aumentar o poder do Congresso Nacional (Arthur Lira, Rodrigo Pacheco, centrão) sobre o governo”, diz um terceiro especialista.

Conforme acordado previamente com os participantes, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e dos comentários.

Riscos para atores políticos

O Barômetro do Poder também questionou os analistas políticos sobre os potenciais impactos dos trabalhos da comissão sobre a imagem de figuras relevantes do governo, da oposição e demais autoridades com alguma exposição aos episódios.

De 8 nomes testados, o que corre maior risco, na percepção dos especialistas, é o do ex-ministro Anderson Torres, que atuava como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal na data dos atos golpistas. Ele está preso há três meses.

Todos os analistas consultados avaliaram como alto ou muito alto o impacto potencial das investigações sobre sua imagem. Considerando uma escala de 1 (muito baixo) a 5 (muito alto), a média das respostas neste caso foi de 4,71.

Na sequência, vem o nome de Gonçalves Dias, também apontado por todos com elevado risco potencial, e uma nota média de 4,43.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é o terceiro nome da lista. Para 86% dos analistas consultados, é alto ou muito alto o risco potencial das investigações sobre sua imagem. Sua postura desde a derrota nas eleições de 2022 foi vista como estímulo a atos de insubordinação e manifestações golpistas por apoiadores que não aceitaram o resultado das urnas.

Alvo de 16 ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro também corre risco de ser considerado inelegível para o próximo ciclo. Para 93% dos especialistas ouvidos, são elevadas as chances de um revés nesse sentido para o ex-presidente. Nenhum dos entrevistados atribui risco baixo ao evento.

O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), também é considerado personagem altamente exposto aos episódios. Afastado do cargo por decisão do ministro Alexandre de Moraes, que durou 66 dias, ele retornou ao comando do Executivo local em março. Na mesma escala de 1 a 5, a média das respostas sobre o risco ao gestor estadual é de 4,14.

Os especialistas, por outro lado, consideram a imagem de Lula relativamente blindada dessas investigações. Para 86%, é baixo o risco potencial das investigações ao presidente. Nenhum analista consultado indicou possibilidade de impacto elevado neste caso.

O ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos relacionados ao 8 de Janeiro no Supremo Tribunal Federal (STF), é o nome visto com menor risco potencial de dano de imagem dentro do grupo de 8 figuras públicas testadas no levantamento. Na escala de 1 a 5, a média das respostas sobre o risco à sua imagem ficou em 1,93.

Já os ministros Flávio Dino (PSB), da Justiça, e José Múcio Monteiro, da Defesa, ficaram na zona intermediária das avaliações de risco feitas pelos analistas ouvidos pelo Barômetro do Poder, com médias de 2,50 e 3,14, respectivamente.

Esta edição do Barômetro do Poder ouviu 11 consultorias políticas – BMJ Consultores Associados, Control Risks, Dharma Political Risk & Strategy, Empower Consultoria; Eurasia Group; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas; Ponteio Política; Prospectiva Consultoria; Pulso Público; e Tendências Consultoria Integrada – e 4 analistas independentes – Antonio Lavareda (Ipespe); Carlos Melo (Insper); Claudio Couto (EAESP/FGV) e Thomas Traumann.

Conforme acordado previamente com os participantes, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e dos comentários.

Clique aqui para ter acesso à íntegra do levantamento.

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Marcos Mortari

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