Testemunhas oculares relembram o que pode ter sido o verdadeiro gol mil de Pelé, na Paraíba


Estádio lotado, gol de Pelé, ida do rei para ser goleiro, vaias, recontagem de gols quase 30 anos depois. Um dia intenso que pode ter uma importância incrível para o futebol paraibano. Recontagem da Folha de S. Paulo na década de 1990 leva o gol 1.000 para a Paraíba Folha de S. Paulo/Acervo/Fábio Henrique Era um estádio pequeno, modesto, muito aquém da grandiosidade que Pelé, o Rei do Futebol, estava acostumado em sua carreira. O dia era 14 de novembro de 1969 e a partida amistosa entre o Botafogo da Paraíba e o Santos acontecia no Estádio Olímpico de João Pessoa. Ainda assim, o dia tem ares míticos. Primeiro porque pode ter sido o local do verdadeiro milésimo gol de Pelé. Depois porque foi ali uma das poucas vezes na vida que o maior jogador de todos os tempos foi vaiado por uma torcida enquanto o via atuar em campo. No dia da morte do Rei do Futebol, testemunhas daquele dia contam o que lembram. Afinal, era uma época sem tantas informações. Com acervos precários que, com o tempo, perderam dados preciosos. A saída foi recorrer a nomes como o de Eudes Moacir Toscano, radialista e narrador paraibano que durante muitas décadas trabalhou na rádio Tabajara. Ele foi a voz daquele jogo. Hoje com 82 anos, à época tinha 29. Já tinha certa experiência, já havia narrado gols importantes, mas nenhum nem perto daquele que ele estava para testemunhar. Muito do que se viveu ali é Eudes quem relembra. O Santos venceu por 3 a 0. O ponta-direita Manoel Maria já tinha marcado duas vezes quando sofreu um pênalti. A primeira celeuma foi a de que Pelé não queria bater o pênalti. Depois de muita insistência, foi a contragosto para a cobrança. Fez o gol 999 e depois foi virar goleiro, reservar para o mítico Maracanã de outrora o milésimo gol. Eudes Moacir Toscano, narrador do suposto gol mil de Pelé TV Globo/Reprodução Acontece que, na década de 1990, uma recontagem da Folha de S. Paulo descobriu um gol perdido num Campeonato Sul-Americano de 1959. Um gol contra o Paraguai que transformaria muitos anos depois aquele gol 999 em gol 1.000. O trabalho de pesquisa foi do jornalista Valmir Storti, que se debruçou por três meses em uma vasta pesquisa, recontando os gols de Pelé. E encontrou. "Na época, o jogo não estava registrado na lista oficial. Seria um gol banal, mas ganhou uma importância incrível anos depois", declarou ele ao Esporte Espetacular, em 2019. Eudes vai na esteira do debate e conta o que lembra: “A multidão vibrou com o gol, que depois se transformaria no verdadeiro milésimo gol de Pelé. Mas, na hora que ele virou goleiro, foi uma vaia geral”, comenta Eudes, saudoso. De toda forma, à época ninguém sabia aindo do erro de contagem. Na expectativa de momento, era mesmo o gol 999 que era visto pelos presentes. “Na hora, eu gritei que tinha sido o novecentésimo nonagésimo nono gol de Pelé”, relembra. Hoje Vila Olímpica Parahyba, Estádio Olímpico ainda hoje existe TV Globo/Reprodução Ainda assim, foi para ele um momento diferente de todos os demais: “Foi uma emoção impressionante. Um sonho em ter vivido um momento daquele. Entrar para a história como o narrador que narrou aquele gol”, orgulha-se Eudes. O narrador relembra também da quantidade de gente que se acumuluva num estádio tão pequeno. A arquibancada estava lotada, um número de pessoas impressionante de acotovelava nos arredores do alambrado que delimitava o campo de jogo. Mas um local inusitado ficou para sempre em sua memória: “Tinha gente até mesmo em cima das árvores que à época existiam nos arredores do estádio. Subiam como dava para assistir da forma como era possível”, relembra. Camisa de Pelé à época do jogo em João Pessoa Acervo/Fábio Henrique O gol de Pelé foi marcado no lado esquerdo de quem observava o campo de jogo da arquibancada. E o goleiro Lula foi para o lado errado, único talvez que não viu a bola entrar majestosa, para arrebatamento do público presente. Eles queriam mais. E se frustaram quando viu Pelé virar goleiro. É mais uma vez Eudes Toscano quem conta o que se passou. Um dirigente do Santos, segundo ele, teria mandado o goleiro reserva desaparecer e o goleiro titular simular uma contusão. Sem quem ir para a meta, a saída era pegar alguém da linha. Escolheram Pelé, para irritação generalizada do público presente. “Não tinha jeito. As pessoas queriam ver Pelé”, comenta. Pelé em treino do Santos em 1969, época do gol em João Pessoa Arquivo A Tribuna O primeiro de dois jogos Quem também estava presente naquela partida de 1969 foi o professor e dirigente botafoguense Raimundo Nóbrega, que naqueles tempos tinha apenas 15 anos. Ele fala da atmosfera que havia no jogo, mas ressalta que já era fanático pelo Botafogo-PB. “Eu fui ali para torcer por Nininho, o maior craque que já jogou pelo Belo”, comenta Raimundo, citando o apelido do clube de João Pessoa. Uma semana depois daquele jogo, contudo, Nininho morreu de forma inesperada. “Foi uma semana de muito sentimento, muito intensa para nós torcedores do Botafogo-PB. Foi jogo de Pelé, mas foi também o último jogo do maior ídolo da torcida do Botafogo”. É Raimundo quem lembra também que aquele não foi o único jogo de Pelé na Paraíba. Dois anos depois, em 1971, Pelé retornaria ao Estádio Olímpico para mais um amistoso com o Botafogo-PB. E o motivo era inusitado. O Santos comprara o passe do atacante botagfoguense Ferreira e, como parte do pagamento, realizou um amistoso na cidade com a presença do rei. A vitória santista foi de 2 a 0. Raimundo Nóbrega, historiador do Belo TV Globo/Reprodução Ademais, para ele não há dúvidas: o milésimo gol de Pelé foi sim em João Pessoa, numa partida contra o Botafogo da Paraíba. No fim, ele se rende ao rei: “Era para ter um museu no Estádio Olímpico, que hoje é a Vila Olímpica Parahyba. Um museu para Pelé e para outros grandes jogadores clássicos que passaram por aqui”, enfatiza Raimundo. Pelé fala de gol perdido em 1959 Folha de S. Paulo/Acervo/Fábio Henrique Vídeos mais assistidos da Paraíba
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