Motorista de carro depredado em ato bolsonarista na PB nega atropelamento: ‘meu carro estava sendo linchado’


Ninguém foi detido após as agressões, e motorista foi autuada por embriaguez ao se recusar a fazer o bafômetro no local. Defesa diz que ela se ofereceu para realizar o teste na delegacia. Advogado dos bolsonaristas diz que uma mulher foi levada ao hospital. Motorista de carro depredado em ato bolsonarista na Paraíba nega atropelamento TV Cabo Branco/Reprodução A motorista do carro depredado em um ato de bolsonaristas em João Pessoa, na noite desta quarta-feira (2), negou que tenha atropelado pessoas propositalmente. Em entrevista à TV Cabo Branco, a geógrafa Flávia Bonolo disse, nesta quinta-feira (3), que foi agredida pelos bolsonaristas. O caso foi registrado contra a condutora, como lesão corporal e embriaguez ao volante. As pessoas que depredaram o veículo não foram detidas. O caso aconteceu em frente ao Grupamento de Engenharia do Exército, na Avenida Epitácio Pessoa, onde acontecia a manifestação de um grupo bolsonarista. A ação, que é antidemocrática e inconstitucional, ocupava as duas calçadas e o canteiro central da avenida, uma das principais de João Pessoa. Carro com adesivo de Lula é depredado em ato bolsonarista na Epitácio Pessoa, em JP Segundo Flávia, no momento em que tentava passar pelo local um grupo de pessoas começou a hostilizá-la, furou o bloqueio e avançou sobre o carro. Ela passava em um veículo com adesivos do presidente eleito Lula (PT). "A gente começou a ser hostilizada de forma mais branda, com aquelas coisas que já são comuns de verem nessas manifestações: arminha, gritos, esse tipo de hostilidade... Em certo momento, começaram a jogar coisas no carro. Jogaram água na minha cara, e nessa hora comecei a ficar nervosa (...) jogaram cascas de banana no carro, jogaram lata de cerveja (...) Tentei fechar a janela mas não consegui", afirmou Flávia. De acordo com a motorista, todos os objetos jogados pelos bolsonaristas estão dentro de seu carro, que segue na Central de Polícia Civil em João Pessoa, aguardando perícia. Ainda segundo Flávia, após jogar objetos contra o veículo, o grupo passou a agredi-la, e esse teria sido o momento em que ela tentou sair do lugar. "Começaram a me agredir, me puxaram, inclusive tenho marcas, hematomas. Minha roupa foi rasgada, eu percebi que meu carro estava sendo linchado, quebraram o para-brisa do carro e eu tirei meu carro, que foi o momento que estão dizendo que eu quis atropelar as pessoas", disse. Carro com adesivos de Lula foi cercado por manifestantes bolsonaristas e depredado Reprodução/TV Cabo Branco A motorista negou que tivesse a intenção de atropelar o grupo, e afirmou que tem provas que mostram que estava sendo agredida antes de tirar o carro em direção às pessoas. "Temos provas materiais, temos vídeos que mostram que o para-brisa do meu carro já estava quebrado antes de eu tirar meu carro do meio das pessoas, que foi o que fez que eles viessem pra cima do meu carro mesmo. Dá pra ver no vídeo que eu movi o meu carro e freei, dá pra ver a luz de freio, eu não tinha intenção nenhuma de seguir com o carro, a intenção era sair do meio de um linchamento, e quando tirei o carro vieram pra cima, colocaram a mão pra tirar a chave da ignição, meu carro travou, a PM chegou e cercou o carro", relatou. A mulher foi detida em flagrante pela polícia por lesão corporal na direção de veículo e embriaguez pois, segundo os agentes, se recusou ao teste do bafômetro. Segundo a defesa dela, ela teria se negado no local, mas na delegacia teria se colocado à disposição para o exame, que não foi feito. Segundo a polícia, três pessoas alegaram terem sido atingidas pelo carro e prestaram depoimento. Nenhuma das pessoas flagradas no vídeo depredando o carro foram encaminhadas à delegacia ou detidas pela polícia. Ela foi presa e liberada após fiança de R$ 600. A defesa nega os crimes. Mulher que teve carro depredado em manifestação diz que PM nega fazer teste do bafômetro O que diz a defesa dela A defesa de Flávia Bonolo alega que o caso não deveria ter sido registrado como acidente de trânsito, pois houve supostas agressões anteriores, que deveriam ter sido investigadas pela polícia. Segundo o advogado da condutora, Getúlio Souza, ela teria se recusado a fazer o teste, inicialmente, por achar que o caso não competia à polícia de trânsito. Porém, decidiu fazer o exame quando o resultado do teste visual da polícia "apontou que ela estava com a voz alterada”. “Por um acaso eu filmei isso e indaguei o policial sobre o porquê de ele estar se recusando e ele simplesmente falou: ‘porque ela já tinha se recusado’. Ora, se ela pode fazer uma contraprova, eu me pergunto por que um agente de segurança se negou a fazer o teste nela?”, disse. O vídeo em questão, filmado por Getúlio, mostra o diálogo entre ele e a geógrafa, no momento em que os policiais assinam o auto de infração. (Veja o vídeo acima). Advogado: Quero deixar registrado em vídeo, como prova do processo, que a autoridade policial colocou que ela estava com a voz alterada e a suposta vítima, ou agente ativa, está querendo fazer o teste. Flávia: Tem como eu falar para o vídeo para mostrar que eu não estou de maneira alguma, absoluta, com a fala alterada? De nenhuma forma, sob nenhuma… falando normalmente? Advogado: Você quer fazer o teste do bafômetro? Flávia: Quero. Advogado: Você deseja fazer o teste do bafômetro? Flávia: Com certeza. O que diz a defesa dos bolsonaristas O advogado Robério Capistrano, que representa o grupo de bolsonaristas que estavam no ato e alegam terem sido atropelados por Flávia, afirmou à TV Cabo Banco que a condutora precisa ser punida. "[ela] tem que ser punida, a carteira dela tem que ser apreendida, levada para o Detran e lá que se resolva administrativamente", disse o advogado. Ele ainda disse que uma mulher foi levada para o Ortotrauma de Mangabeira, o Trauminha, após o suposto atropelamento. Mulher tem carro depredado ao tentar passar por ato bolsonarista em João Pessoa O que diz a polícia Segundo o BPTran, ela apresentou sinais de embriaguez e se recusou, inicialmente, a fazer o teste do etilômetro, sendo autuada em flagrante por dirigir sob influência de álcool e se recusar a fazer o teste que poderia certificar a influência da substância. “A carteira dela é recolhida nos termos do artigo 165A. Como ela se recusou a ser submetida ao teste, a medida administrativa é o recolhimento da CNH e [o documento] é enviado ao Detran, até que ocorra todo o trâmite do processo”, disse o sargento Albérgio, do BPTran. Em entrevista à TV Cabo Branco, o comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Marques Júnior, disse que a condutora se negou a fazer o teste de alcoolemia e que por isso foi autuada em flagrante, também por lesão corporal. Ainda conforme o comandante, três pessoas precisaram ser socorridas após ficarem lesionadas. O local onde eles foram atendidos não foi informado. Segundo a Polícia Civil, Flávia foi indiciada por direção sob efeito de álcool e lesão corporal. Ela pagou uma fiança de R$ 600 e foi liberada. O ato encerrou-se no final da noite, mas algumas pessoas continuaram a dormir no local e a manifestação voltou a acontecer no início da manhã desta quinta-feira (3). Vídeos mais assistidos da Paraíba
g1 > Paraíba

g1 > Paraíba