Vítima de feminicídio era monitorada pela família após separação: ‘A única oportunidade que ele teve, realizou o que vinha prometendo’
Rayssa de Sá foi assassinada a tiros pelo ex-esposo na quinta-feira (21), em Belém, no Sertão da Paraíba. Rayssa Kathylle de Sá Silva, de 19 anos, foi vítima de feminicídio na início da noite desta quinta-feira (21) Reprodução: Arquivo pessoal O irmão de Rayssa de Sá, vítima de feminicídio pelo secretário de comunicação do município de Belém, afirmou que a família não deixava ela sair sozinha para proteger a estudante. A jovem registrou em boletim de ocorrência que estava separada há cerca de um mês do acusado, conhecido como Betinho Barros, de 38 anos. Ela passou a viver na casa dos avós, junto com a filha de 1 ano e 3 meses, que também é filha do secretário. “A gente não deixava ela ir pra faculdade só, sempre acompanhada, dentro de casa sempre tinha alguém. A única oportunidade que ele teve, ele realizou o que vinha prometendo fazer”, afirmou Renan de Sá. Outro irmão da vítima, Remysson de Sá, que trabalha na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), relata que sempre dava um jeito de acompanhar Rayssa até mesmo no campus onde ela estudava. Cada membro da família estava com ela em algum momento. “Ela voltava junto comigo todos os dias para a casa dos nossos avós, onde eu moro junto com eles. Nos dias que ela ia para casa de nossa mãe, o padrasto buscava ela no ponto de ônibus, e quando chegava em casa ficava com minha mãe. Não saía para lugar nenhum, pois estava com medo dele fazer algum mal”, relatou Remysson. A jovem cursava Direito na UEPB, no campus de Guarabira. De acordo com o irmão da vítima, a estudante realizava um sonho ao cursar a graduação e afirmou para a mãe, na mesma semana do crime, que estava realizada. “Estudiosa, dedicada, realizou um sonho. Ela disse pra minha mãe essa semana: mãe, eu não peço mais nada para o meu Deus, ele já me deu tudo o que eu queria. Uma família e minha faculdade. Eu sempre sonhei em ser doutora… e ela tava realizando”, destacou Renan de Sá. A Universidade Estadual da Paraíba, por meio do Observatório Bríggida Lourenço, prestou solidariedade à família. “Rayssa é mais uma vítima do machismo. O feminicídio é o ápice da violência contra as mulheres e ocorre na maioria das vezes, em relações afetivas e/ou familiares e são cometidas em grande parte por homens que são os atuais ou ex-maridos, companheiros, namorados, etc. Quando o feminicídio acontece, a vítima já tem passado por uma série de violências sistemáticas. O feminicídio encerra um ciclo. ”, afirmou a UEPB. De acordo com Remysson, a relação entre Rayssa e Betinho no começo era tranquila, mas depois o homem começou a tratar sua irmã com ignorância. As agressões verbais evoluíram para as agressões físicas. Em relato ao g1, o irmão afirma que a vítima foi empurrada na parede e chegou a ser agredida com um cabo de vassoura. Rayssa decidiu pedir o divórcio e voltar para a casa da mãe com a filha, após uma agressão que a deixou inconsciente. Mas Betinho Barros continuou perseguindo a vítima até cometer o feminicídio. “Ele começou a ameaçar ela. Onde ela ia, ele ia atrás. Ele entrou na casa da minha mãe e ameaçou matá-la, disse que ia vender tudo e comprar uma arma, e foi o que ele fez”, lamenta Remysson. A vítima também deixou outra filha de 5 anos, que não era filha do acusado. Medida protetiva uma semana antes do crime Em boletim de ocorrência, feito na semana anterior ao feminicídio, Rayssa Kathylle relata que Betinho Barros enviou mensagens afirmando que estava vendendo os móveis da casa para comprar uma arma e cometer o crime. O acusado não aceitava a separação e a perseguia com recorrentes telefonemas e mensagens de texto. A vítima denunciou e pediu medida protetiva contra Betinho Barros no dia 13 de setembro, na Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de Guarabira. A vítima recebeu ligações e mensagens com ameaças até mesmo durante o registro da denúncia. O investigador que estava colhendo o depoimento interveio e atendeu um dos telefonemas. A medida protetiva de urgência solicitada por Rayssa foi atendida no dia seguinte, dia 14 de setembro. O juiz determinou o afastamento do acusado do lar ou local de convivência da vítima, proibindo que ele se aproximasse da vítima e estabeleceu um limite mínimo de 200 metros. Betinho Barros também foi proibido de manter contato com a vítima por meio de ligações telefônicas e envio de mensagens por celular (SMS), e-mail e outras. Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba