Kassab diz que apoio do “centrão” deverá ajudar Lula com reformas, mas medidas podem não surtir efeito esperado
O presidente nacional do PSD (maior bancada do Senado Federal e quinta maior na Câmara dos Deputados), Gilberto Kassab, afirmou, nesta segunda-feira (28), que o possível embarque de partidos do “centrão” no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderá dar mais tranquilidade ao Palácio do Planalto na tentativa de aprovar sua agenda econômica no Congresso Nacional.
A despeito da novela que tem se tornado o processo de negociações entre o mandatário e lideranças do grupo político, Kassab acredita que no fim haverá um acerto. De um lado, ele avalia que integrantes do “centrão” querem espaços na Esplanada dos Ministérios. De outro, a costura pode ajudar na construção de uma base governista mais sólida no parlamento.
“O centrão quer entrar no governo”, disse durante painel no evento Warren Institutional Day, realizado em São Paulo. “No final, vai haver uma acomodação. Haverá uma parte expressiva do centrão que participará do governo. Fica claro conversando com nossos líderes no Congresso que a bancada do Republicanos quer participar do governo, a bancada do PP quer participar do governo, e há um jogo de cena das suas direções para parecer que não quer, para não perder o eleitor de oposição. Mas na política é muito difícil agradar gregos e troianos”.
O ex-ministro das Cidades da gestão Michel Temer (MDB) e atual secretário de Governo e Relações Institucionais do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) no Estado de São Paulo acredita, no entanto, que o tempo é curto para a aprovação de medidas de impacto fiscal no Legislativo e que há riscos de Lula não colher os efeitos esperados com o pacote em negociação.
“O grande desafio do governo é depois fazer com que o que foi aprovado surta efeito”, afirmou. “Acho que Lula consegue, com muito sacrifício, conseguir aprovar essas medidas e mais algumas, mas na execução do que foi aprovado, acho que não terá a mesma facilidade”.
“Haverá essa participação e isso ajudará o presidente Lula a aprovar seus projetos. Eu não tenho dúvida. Minha dúvida é em relação ao fato do que será aprovado se vai ter as consequências positivas que o governo espera”, complementou.
Apesar da aproximação entre siglas que apoiaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o atual governo, Kassab acredita que PL, PP e Republicanos seguirão ocupando o campo da direita nas próximas eleições presidenciais, sendo oposição ao projeto a ser defendido por Lula na ocasião.
Durante o evento realizado em São Paulo, Kassab também observou que, na prática, restam cerca de três meses para o governo federal aprovar sua agenda econômica. Isso porque em dezembro a pauta legislativa deve se concentrar no fechamento de pautas relacionadas ao Orçamento de 2024. No ano seguinte, em razão das eleições municipais, ele vê condições reduzidas para a aprovação de uma agenda arrecadatória, sobretudo de aumento de receitas.
“O que não for aprovado neste ano terá dificuldades para ser aprovado, fica para 2025. Em ano de eleição, é muito difícil. As atenções estão voltadas para as eleições, o parlamentar tem seus compromissos e tem dificuldade de ter posicionamentos que não sejam populares”, avaliou.
Das medidas econômicas indicadas até o momento pelo governo Lula, Kassab vê mais dificuldades no avanço da tributação sobre lucros e dividendos, por se tratar de tema de ampla repercussão, inclusive sobre os círculos próximos de relacionamento dos próprios parlamentares.
Quanto à reforma tributária, ele exaltou a posição de Tarcísio de Freitas, que divergiu de seus antecessores e apoiou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 45/2019) nos termos votados pela Câmara dos Deputados, mas disse que o governador paulista está atento às modificações em discussão no Senado Federal. Segundo ele, um dos pontos inegociáveis para o estado é o fim da guerra fiscal.
“Tarcísio agiu de uma maneira diferente, ele agiu com uma visão bastante racional, bastante compreensiva, mas está muito atento, porque é governador de São Paulo e precisa zelar pelo Estado”, observou.
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