Dia do Cordel: ‘vitrine’ de acervo com mais de 18 mil cordéis, museu tem exposição em homenagem a Ariano Suassuna


Museu dos Três Pandeiros, em Campina Grande, expõe cordéis, considerados por Ariano Suassuna a "bandeira" do Movimento Armorial. Cordel é um dos destaques do Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) Daniela Nader/Divulgação Quem visita o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP), popularmente conhecido como "Museu dos Três Pandeiros", em Campina Grande, no Agreste paraibano, se depara com um vasto acervo de obras importantes para a cultura popular do Nordeste. Cada um dos três "pandeiros" é destinado a uma expressão artística, entre elas, a literatura de cordel, celebrada neste dia 1º de agosto, Dia Nacional do Cordel. Com a Exposição Armorial em curso, a galeria de cordel do MAPP oferece ao público folhetos em homenagem a um dos maiores intelectuais nordestinos: Ariano Suassuna. Compartilhe esta notícia no WhatsApp Compartilhe esta notícia no Telegram Inaugurado em 2012, o MAPP teve sua concepção museológica dividida entre música, artesanato e literatura de cordel, popularizada em folhetos conhecidos como "jornais do povo", que na antiguidade serviam para espalhar informações para nordestinos interior adentro. Eram os cordéis que traduziam as alegrias, dores e saberes populares do Nordeste, preservado a historicidade da região. Na Paraíba, a literatura de cordel tem sua história preservada no acervo da Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), que também é responsável pela administração do MAPP, em Campina Grande. Lá, há mais de 18 mil cordéis, alguns raríssimos datados a partir de 1907. Destes, cerca de 500 já foram expostos no Museu dos Três Pandeiros. "Os acervos vivos dos cordéis estão na memória dos nossos avós, bisavós, e o que resta estão em acervos como o nosso, que preserva a historiografia do Nordeste", afirma Joseilda Diniz, curadora responsável pela galeria do cordel do MAPP. Visitação escolas na galeria de cordéis do MAPP, em Campina Grande Divulgação/MAPP A curadora do espaço destinado ao cordel no MAPP, Joseilda Diniz, explica que a galeria já recebeu diversas exposições, criadas a partir do acervo da Biblioteca Átila Almeida. Para ela, o museu é, na verdade, uma grande vitrine da biblioteca, que atualmente está com visitação suspensa devido a reformas. "Na parte do cordel, temos uma sala dedicada às poéticas que o envolvem, como a cantoria e a xilogravura. Já celebramos o centenário de Leandro Gomes de Barros, importante precursor da literatura de cordel, e diversas outras exposições de nomes como José Laurentino e Lourdes Ramalho voltada à compreensão do público que nos visita, formado principalmente por estudantes", explica a curadora. Denise Mattar, curadora da exposição "Movimento Armorial 50 anos", em Campina Grande Divulgação Cordéis armoriais Atualmente, o espaço recebe cordéis assinados por Ariano Suassuna e diversos outros autores do Movimento Armorial. Segundo a curadoria da Mostra Armorial, Denise Mattar, Ariano acreditava que o cordel poderia ser considerado a bandeira do movimento armorial, já que carrega em sua essência a cultura nordestina. Joseilda Diniz explica que o próprio Ariano Suassuna apontava caminhos para o desenvolvimento da identidade com a cultura popular nordestina. Dentre estes caminhos está o cordel, que é "atravessado", nas palavras da curadora, pela musicalidade local: cantorias, aboios e demais expressões orais usadas pelos nordestinos. A xilogravura, uma das principais características dos cordéis, também tem sua importância traduzida pela opinião do intelectual paraibano. Afinal, Ariano acreditava na literatura de cordel justamente por ela possuir diversidade de expressões. "O armorial é a cultura viva, e agora nos honra com uma sala de referência. É uma grande honra termos um museu dedicado a arte popular da Paraíba. Temos aqui uma obra que possui a tríade: passado e presente, remando com futuro", afirma Joseilda. Cordéis na exposição "Movimento Armorial 50 Anos", no MAPP, em Campina Grande Divulgação Cerca de 20 folhetos, do próprio Ariano e de outros importantes autores do gênero literário, como J. Borges, Marcelo Soares, estão expostos. Alguns deles, inclusive, relatam a dor da morte de Ariano sentida pelos poetas cordelistas nordestinos, que tanto o admiravam. LEIA TAMBÉM: Campina Grande recebe exposição em comemoração ao Movimento Armorial Obra de Niemeyer, 'Museu dos Três Pandeiros' completa 10 anos de inauguração O arte educador José Nicolau Bento, responsável pela monitoria do espaço no MAPP, explica que os cordéis expostos também contém contos e histórias do imaginário popular, como textos místicos e reivindicações políticas e culturais. Alguns dos mais famosos textos de Ariano Suassuna, como "A Farsa da Boa Preguiça" e "O Auto da Compadecida" também estão escritos em cordel. E quem visita o espaço e vê com os próprios olhos os cordéis parece entender a emoção relatada por Suassuna. As mais de 20 mil pessoas que passaram pelo local conseguiram absorver e entender o sentimento nordestino transpassado nos folhetos, segundo a organização da mostra. "O Armorial em si tem por base o cordel [...] pois é criado a partir do imaginário do romanceiro popular. Temos recebido uma demanda enorme de um público que visita os outros "pandeiros", mas no do cordel encontram a base de toda a visitação. Eles adentram e são adentradas pelo cordel, se emocionam, ri e choram. O cordel tem esse poder de divertir e também despertar profundas emoções", finaliza José Nicolau. A exposição "Movimento Armorial 50 Anos" fica no MAPP até 20 de agosto. O público pode visitar gratuitamente os cordéis e demais espaços do equipamento cultural, através da retirada gratuita de ingressos pela internet. Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba
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