Obras Inacabadas: rodoviária, teatro, casas populares reforçam lista de descasos com a população
Terceira reportagem da série do JPB2 visita Monteiro, Patos e Pedra Branca para falar de diferentes realidades e problemas. Em comum, o desperdício de dinheiro público. Obras Inacabadas: rodoviária, teatro e casas populares se somam a prejuízos na Paraíba Monteiro está localizado a 300km da capital João Pessoa. Com uma conhecida festa de São João, com mais de 30 mil habitantes e sendo a cidade em que nasce o Rio Paraíba, a Prefeitura Municipal firmou uma parceria com o Ministério do Turismo para construir um terminal rodoviário. O investimento foi de R$ R$ 1,5 milhão, mas até hoje a obra não foi finalizada. Um prejuízo incalculável para uma população que ainda hoje fica exposta ao sol e à chuva se quiser pegar um ônibus ou uma van na cidade. Obras Inacabadas Equipamentos esportivos abandonados e R$ 6 mi ainda a gastar em Patos População da PB sofre com creches abandonadas e verba pública desperdiçada Esta é a terceira parte da nova série do JPB2, “Obras Inacabadas”, em que os repórteres Laerte Cerqueira e Beto Silva viajaram ao longo de cinco dias por 10 cidades, visitando 15 obras que foram iniciadas por gestores públicos, mas que nunca foram finalizadas, representando um grave prejuízo de dinheiro público. São quatro reportagens e a terceira foi exibida nesta terça-feira (17). Pois, no município localizado no Cariri paraibano, é na praça Nilo Feitosa que a pessoa tem que ir para embarcar para fora da cidade. E é no mesmo local que ela desembarca quando chega na região. Não tem banheiros, abrigo, conforto, nada. Uma situação que incomoda as pessoas da cidade. Praça em Monteiro é improvisada como rodoviária TV Cabo Branco/Reprodução “Em toda cidade tem que ter uma rodoviária, né? E quanto mais qualidade para o passageiro, melhor. Um banheiro próximo, uma lanchonete, tudo isso beneficia o passageiro. Porque, se chover, você fica na chuva", lamenta Eliezer Batista, que estava justamente pegando uma van para sair de Monteiro. O motorista Inaldo Xavier faz coro ao lamentar a falta da rodoviária, mas ainda se mostra otimista com a solução do problema: “Está demorando. Fazia um bocado de ano que estava parado, agora começou de novo. Não sei se vão terminar, mas espero que sim". O convênio entre Prefeitura e Governo Federal foi firmado em 2017, mas a licitação e o início das obras só começou em 2019. Depois, veio a pandemia, ocorreu aumento de preços, a empresa contratada desistiu da obra. Foi só em março de 2023 que a gestão municipal retomou os trabalhos, com previsão de conclusão para o fim do ano que vem. “Ficou inviável para o município fazer um reequilíbrio de preço. A obra ficou paralisada e a empresa abandonou o projeto. A partir do momento que abandonou, a gente tem o novo processo. Readequar o projeto com o que já existia lá, fazer o novo orçamento tentando também utilizar o dinheiro que a gente já tinha", explica Waldirene Alves, secretária de Planejamento de Monteiro, admitindo no entanto que algum grau de prejuízo vai haver para as contas públicas. Rodoviária segue sendo uma incógnita, mas Prefeitura de Monteiro promete entregá-la até o fim do ano que vem TV Cabo Branco/Reprodução Em meio aos debates, a aposentada Dulcinéia Feitosa fala da importância de um terminal rodoviário para a população idosa. “Chegar, ficar sentada no banco de uma praça, esperando transporte, fica difícil. Quem viaja com idoso, fica muito mais difícil", destaca. E se o problema em Monteiro é de mobilidade, em Patos a reclamação gira em torno da ausência de um teatro na cidade, mesmo depois de dez anos de anúncio da construção do Teatro Municipal de Patos, a partir de um convênio com o Ministério da Cultura. Na época do anúncio, foi uma festa. Depois, ficou a frustração. “A gente ficou muito feliz, inclusive é uma pauta muito antiga desse movimento. Fizemos uma festa em torno dessa notícia, mas que, ao longo dos anos, estamos nesse aguardo. Nós achávamos que a obra ia sair em tempo recorde", decepciona-se Marcelo Lima, ativista cultural e líder de um coletivo cultural da cidade. Teatro em Patos nunca foi entregue, apesar de estar com o prédio quase pronto TV Cabo Branco/Reprodução Marcelo explica que a ausência de um teatro inviabiliza muito da mobilização, muito da efervescência cultural de uma cidade. “O artista precisa de um palco para desenvolver a sua arte", defende Marcelo. Para, pouco depois, completar: “Formar plateias é essencial para o artista. Dá ao povo da cidade um momento também de lazer e entretenimento". Opinião parecida tem Perla Alves, que é presidente da Associação dos Artesão e Artesãs de Patos. Ela compara com outras cidades importantes do Sertão, como Sousa e Cajazeiras, e pontua que Patos é a única sem um teatro, sem um espaço para as diversas linguagens artísticas. “A gente não tem mecanismos, ferramentas, para incentivar novas produções", indigna-se. "Aqui no município tem vários grupos de teatro que poderiam estar utilizando o espaço. Outros segmentos como a música. Oficinas que a gente poderia estar realizando no teatro. A gente poderia estar com mostras de artesanato. Exposição de artes plásticas, que muitas vezes faz em outros ambientes", enumera. Perla Alves lamenta falta de espaços culturais na cidade de Patos TV Cabo Branco/Reprodução O caso é tão grave que, em 2020, o MPF abriu inquérito para fiscalizar a paralisação da obra do teatro. Já foram gastos R$ 2,9 milhões, mas até hoje o equipamento cultural não abriu suas portas. Francivaldo Dias, que é secretário de Adminstração do município, admite o atraso, mas destaca que a obra do prédio já foi concluída. Em seguida, explica um segundo convênio, orçado em mais R$ 2 milhões, vai precisar ser firmado. “Esse atraso ocorreu, isso é um fato, é inegável. Mas a obra do prédio, a construção física do prédio, foi concluída, que foi o objetivo do primeiro convêncio. Aí nós partimos para o segundo plano. Que é a parte de equipamentos do Teatro Municipal. É uma parceria entre a Prefeitura de Patos e o Governo do Estado", explica. Descaso com a habitação em Pedra Branca Ainda no Sertão da Paraíba, o desperdício de dinheiro em obras não concluídas afeta diretamente a população mais pobre, que sonha com a casa própria para se livrar dos gastos com aluguel. Isso porque, ainda em 2014, nada menos que 40 casas populares começaram a ser construídas na cidade. E muitas pessoas observavam com atenção e expectativa aquela novidade. Para piorar, as obras chegaram a ficar com 90% delas concluídas, faltando pequenos detalhes para as casas serem finalizadas e entregues à população. E, aí, a execução foi interrompida. Nunca mais foram retomadas. Casas abandonadas em Pedra Branca TV Cabo Branco/Reprodução Allison Bastos, chefe de gabinete da Prefeitura de Pedra Branca, explica que o problema partiu do Governo Federal: “A Prefeitura entrou em contato com o Ministério das Cidades, num tempo, pedindo que se solucionasse o problema, e não teve nenhuma resposta. O prefeito na época, Allan Bastos, ele também foi a Brasília, tentou finalizar essas casas com recursos próprios, e o Ministério pediu para que aguardasse, que estava resolvendo esse problema”, destacou, afirmando em seguida que nada mais foi feito. Naquele tempo, ele relembra, estava quase tudo pronto. Algumas casas faltando apenas a pintura. Mas a execução da obra recuou de 90% para 50%. “Já tem madeira comprometida. Coberta, caixa d'água, equipamentos sanitários também foram roubados". Casas que estavam quase prontas, já precisariam de reforças antes mesmo de serem entregues TV Cabo Branco/Reprodução A dona de casa Sueli da Silva Santos mora bem perto de onde as casas estão abandonadas. Ela representa bem a indignação e o prejuízo que essas obras inacabadas provocam. Vive com apenas R$ 600 mensais e 1/3 disso vai só para aluguel. “No dia seguinte ao pagamento do aluguel, a gente já está devendo de novo”, lamenta Sueli. Depois, desabafa: “Para nós que não temos casa, é muito triste. Quando eu vejo essas casas abandonadas, me dá um desespero". Sueli da Silva Santos: desespero diante do abandono das casas TV Cabo Branco/Reprodução Vídeos mais assistidos da Paraíba