Romance distópico ambientado em João Pessoa é estreia de Ricardo Oliveira na literatura

Em uma João Pessoa (PB) arrasada por um ataque de gás venenoso, o único sobrevivente decide enterrar os corpos e investigar a vida de seus vizinhos mortos em um condomínio fechado. Essa é a premissa de Verde gás, romance distópico de Ricardo Oliveira, que entra em campanha de financiamento coletivo a partir de 12 de julho na plataforma Catarse. Publicado pela editora O Grifo, especializada em narrativas insólitas e especulativas, a obra é a estreia de Ricardo no gênero.

 

Jornalista e produtor de conteúdo digital, o autor traz para o livro as fortes referências de cultura pop que fazem parte da sua formação. “Produzo conteúdos sobre cinema, games, música e literatura desde a adolescência, em blogs, canais de vídeo e podcasts. Agora chegou a hora de colocar essa experiência junto do desejo de contar histórias”, comenta o autor. A obra é carregada de influências de filmes como Eu Sou a Lenda, jogos como The Last of Us e romances como A Estrada, do recém-falecido autor americano Cormac McCarthy. “Resolvi juntar essas referências e fazer a história acontecer na minha cidade”, explica Ricardo.

 

A distopia de um Brasil evangélico

A trama de Verde gás nasceu em 2018 da observação de casas e prédios abandonados no meio da capital paraibana. “Comecei a reparar que a gente tinha mini cenários pós-apocalípticos por aí. Toda rua tem uma casa velha, com mato crescendo, e isso pareceu aumentar na pandemia”, comenta o autor. “É mais triste ainda no Centro, onde a gente vê muitos prédios históricos. Parece o fim do mundo mesmo”. A gênese da obra naquele ano, entretanto, não tinha apenas a ver com arquitetura. Foi na crescente ligação entre evangélicos e política no Brasil contemporâneo que Ricardo encontrou a faísca definitiva para a história seguir. “A cultura evangélica começou a fazer parte do país de um jeito novo nos últimos anos e acho que é importante termos mais obras discutindo tudo isso, especialmente com visões de dentro”, explica. O autor revela ter longa experiência na vivência com denominações evangélicas, desde a infância. “Isso aparece na narrativa em épocas e contextos diferentes, colocando o personagem diante de dilemas de fé desde a puberdade até a vida adulta nas eleições de 2018”, complementa.

 

Campanha de financiamento coletivo

O livro inicia sua campanha de financiamento coletivo neste dia 12 de julho e segue até 26 de agosto. A ação funciona como uma pré-venda e é flexível, quando a obra é publicada mesmo se não atingir a meta. “Chegar ao objetivo financeiro da campanha ainda assim é muito importante, porque mostra o potencial da obra para a editora, podendo garantir até uma tiragem inicial maior”, comenta Daniel Gruber, editor e fundador da O Grifo. A campanha traz as tradicionais recompensas especiais, para quem quer uma experiência mais completa, com direito a adquirir fanzines, postais, camisetas e mais itens colecionáveis.

Apesar de sediada no Rio Grande do Sul, a editora O Grifo tem forte ligação com autores nordestinos, especialmente da Paraíba. Lucas Lopes, de Campina Grande, publicou em 2022 a coletânea de contos fantásticos Os Filhos da Terra. Já Clarissa Moura, Isabor Quintiere e Bruno Ribeiro aparecem nas antologias Anatomia das sombras e O Novo Horror. Bruno (autor do premiado Porco de Raça), inclusive, assina a orelha de apresentação de Verde gás: “Ricardo Oliveira enxerga e nos presenteia com um excelente livro inventivo e belo, que não faz concessões ou acenos aos lugares-comuns, pelo contrário: ousa, brinca com as possibilidades, reinventa um gênero, e nos ilumina em meio ao caos”, analisa Ribeiro.

Site da editora O Grifo: www.ogrifo.com.br

Redes sociais do autor: https://linktr.ee/ricardoollliveira

Sobre o autor

Ricardo Oliveira é jornalista, paraibano e pai do Theo. Nascido em 1986, escreve sobre cultura pop em blogs desde os 14 anos. Verde gás é o seu romance de estreia na ficção especulativa, trazendo uma narrativa distópica para a capital da Paraíba, João Pessoa. Tem mestrado em comunicação pela UFPB e já publicou digitalmente a seleção de minicontos Eu te filmei e isso não fez de nim um cineasta, de 2020. Em junho, o autor publicou na Amazon o conto Mais uma ficha, inspirado em videogames antigos. O e-book passou duas semanas entre os 10 mais baixados na categoria de ficção científica da plataforma.

 

Bruno Ribeiro (autor de Porco de Raça) sobre Verde gás:

“Durante a sua odisseia de coveiro de si e dos outros — um ladrão de intimidades no fim do mundo —, João precisa entender onde foi que ele errou para ter parado aonde se encontra atualmente: no fim dentro do fim, restaurando casas como se estivesse remendando as fraturas da vida, “sepultando o mundo inteiro”. Porém, mal sabe ele, é impossível remendar um apocalipse. Seja os nossos, seja o do mundo. O verde é total.”

Débora Ferraz (autora de Enquanto Deus não está olhando) sobre Verde gás: 

“Os elementos do pop (ficção distópica e coming of age) dão forma a um Nordeste contemporâneo e mostram que, às vezes, a gênese do Mal está justamente em acreditar que tudo o que se colore de verde há de ser a esperança. Mais do que isso, é uma saga política sobre como essa coisa sem-nome, essa coisa verde, se espalhou entre nós com cara de inofensiva”.

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Cristiane Cavalcante

Cristiane Cavalcante