Censo, o futuro de João Pessoa e as eleições 2024, por Éder Dantas
Dados preliminares do censo de 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE indicam que a capital da Paraíba, João Pessoa, é agora a sexta capital mais populosa da região, à frente de Natal (RN) e Teresina (PI). Nossa cidade já conta com quase o dobro de habitantes de Campina Grande, segunda maior cidade do estado. Nos últimos 12 anos, a cidade viu sua população crescer de 723.515 habitantes para 833.932 habitantes, atingindo um aumento de 15,3%.
O crescimento da outrora provinciana Cidade da Parahyba do Norte se deu acima do crescimento nacional e regional. A população do Brasil superou os 203 milhões (203.062.512), segundo o Censo 2022, ficando, todavia, abaixo do previsto. O Centro-Oeste foi a região que mais cresceu (provavelmente movida pelo boom do agronegócio). O Nordeste, por sua vez, teve a menor taxa anual de crescimento do país. Várias capitais tiveram redução populacional, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro e das nordestinas Recife, Salvador, Fortaleza e Natal.
Não sou demógrafo, nem geógrafo. Deixo, portanto, a análise dos dados apontados pelo Censo para os especialistas na matéria. O que pretendo fazer aqui é levantar questões para o debate em torno do futuro da cidade em que vivemos. Não há sombra de dúvida que os dados apresentados pelo IBGE impactam nos rumos do desenvolvimento da capital paraiba e, especialmente, no planejamento governamental.
Tivemos, em doze anos, um acréscimo de 110.417 habitantes em nossa cidade. Isto significa a chegada de pessoas que precisam morar, comer, tomar banho, defecar, se deslocar, estudar, trabalhar, praticar exercícios físicos, ter uma vida cultural, ou seja, precisam ter qualidade de vida e, para isso, necessitam de vida econômica e social, serviços públicos e infraestrutura urbana.
E como anda a qualidade de vida em nossa cidade? Nas áreas nobres, tivemos uma grande verticalização das construções, com expansão dos negócios privados e uma visível melhora na qualidade de vida das pessoas. O maior símbolo de tudo isso é a construção de edifícios luxuosos em bairros como o Altiplano Cabo Branco. Em certas áreas, a cidade está, no linguajar popular, “um brinco”.
Já no Centro da cidade, o cenário é desolador. Os prédios antigos, cada vez mais, em ruínas. Comércio decadente, drogas, desemprego, prostituição, miséria, compõem o quadro. Na periferia, aos problemas sociais se soma a falta de estrutura. Cada vez mais, podemos falar em duas João Pessoas: A da orla (um “paraíso tropical”, gerido pelo mercado) e a maior parte da cidade, em que a maioria parece viver entregue à própria sorte.
No tocante à questão ambiental, a “cidade jardim”, tão decantada no passado, parece uma realidade a cada dia mais distante. A redução da cobertura vegetal avança assustadoramente, enquanto nossos rios permanecem poluídos. Os grandes interesses econômicos (que ditam regras na orla) avançam em direção ao sul do município, de olho em áreas como Gramame e o território do “Cinturão Verde”, antes pensado para produzir alimentos. Enquanto isso, a prefeitura quer promover uma “engorda” da praia, projeto não discutido com ninguém e que interessa a meia dúzia de empresários ávidos por lucros, enquanto o povo padece com serviços públicos precários e o meio ambiente é atacado. A cidade, já desigual, pode ficar mais discrepante ainda, do ponto de vista econômico, social e ambiental.
Estamos há pouco mais de um ano e três meses das eleições e ainda bem que o Censo foi divulgado. Ele nos mostra dados desafiadores para quem mora na cidade e pensa no seu futuro. Lideranças e partidos políticos comprometidos com uma cidade humana e sustentável não podem permitir que o debate eleitoral, que ora se inicia, se restrinja à discussão de nomes. Precisamos discutir sobre a cidade que temos e a cidade que queremos. O futuro se constrói agora.
É hora de repensar este modelo neoliberal, concentrador de riquezas e predatório dos nossos recursos naturais, que tem predominado em muitas cidades e, em João Pessoa, a outrora “cidade mais verde do mundo”, em especial.
Uma cidade minimamente sustentável e para todos resultará de muito diálogo, luta social e será obra de muitas mãos! Que venha o debate!
*Professor do Departamento de Psicopedagogia da UFPB e ex-Secretário de Transparência Pública de João Pessoa.
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