SESI implementa programa para identificar impactos da pandemia na aprendizagem
A pandemia pode ter chegado ao fim, mas os impactos na educação brasileira serão conhecidos nos médio e longo prazos. O ensino remoto trouxe diversos desafios de aprendizagem e de desenvolvimento socioemocional. Mas quais os reais prejuízos desse período de educação on-line? Avaliação Diagnóstica feita pelo Serviço Social da Indústria (SESI) já mostra algumas lacunas: estudantes dos anos iniciais têm conhecimentos avançados em português e matemática, enquanto os anos finais e ensino médio estão abaixo do esperado.
Em 2022, a rede implementou o Programa de Avaliação do Sistema SESI de Educação (Passe). O programa prevê três avaliações, além de dois simulados voltados para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). A primeira etapa, da Avaliação Diagnóstica, ocorreu entre 27 de fevereiro a 10 de março deste ano.
Foram aplicadas mais de 200 mil avaliações que contemplaram língua portuguesa e matemática para todas as séries do ensino fundamental e médio. Cerca de 101 mil estudantes de 24 estados e do Distrito Federal participaram da prova, que também contou com uma aplicação digital para agilizar o processo de correção. Ao todo, 36.243 estudantes realizaram a avaliação no formato on-line.
“O Passe trouxe clareza”
Para o analista de Educação Básica do SESI Matheus Lincoln, o programa é positivo para mapear o que os alunos aprenderam de verdade. “Nos adaptamos rapidamente ao ensino remoto, mas não tínhamos a certeza de até que ponto foi efetivo. Antes a gente dizia: ‘a gente sabe que os alunos têm que recuperar, mas recuperar o quê?’. Daí o Passe trouxe clareza”, pontua.
Os alunos do 3º ano, por exemplo, têm conhecimentos adequados em língua portuguesa e básicos em matemática. Com as análises e gráficos em mãos, diretores e professores podem trabalhar de maneira individualizada para recuperar o tempo perdido.
As provas de português e matemática são corrigidas da mesma forma que o Enem, pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), que consegue medir o nível de proficiência dos estudantes, identificando coerência pedagógica nas respostas e eliminando os “chutes”.
Adaptações para a próxima etapa
Segundo Lincoln, melhorias serão implementadas para a próxima avaliação do Passe, o Avalia SESI, que vai verificar se as lacunas identificadas com a avaliação diagnóstica já foram supridas.
Para as escolas com aplicação digital, serão implementadas uma série de estratégias de segurança para a prova ser mais confiável. O Avalia SESI será aplicado de 12 de junho a 21 de julho e incluirá provas de ciências e humanidades. Por fim, os alunos responderão um questionário de clima escolar.
“É importante fazer levantamento de como está a relação com as escolas e olhar para questões socioemocionais. Se a gente tem situações de violência, de ambiente não positivo, temos que tornar as escolas locais favoráveis à aprendizagem”, explica Matheus.
Para Denize Farias Marques, gerente de Educação Básica do SESI-DF, o desafio vai ser maior com mais duas áreas de conhecimento na próxima etapa. “Isso vai dar um resultado melhor ainda, vai propiciar depois das férias fazer uma intervenção mais completa e entender melhor quais são os desafios pro segundo semestre”, opina.
Em relação aos questionários de clima escolar, Denize acredita que serão essenciais, porque “você ter números é interessante, mas ter algo qualitativo também é importante”.
Quais as avaliações previstas no Passe?
- Avaliação Diagnóstica – Para alunos do 2º ano do fundamental ao 3º do ensino médio;
- Avalia SESI (1º semestre) – 3º ano do fundamental ao 3º médio;
- Avalia SESI (2º semestre) – todas as turmas;
- Simulado Saeb – 2º, 5º e 9º do fundamental;
- Simulado Enem – 3º ano do médio.
Com as três avaliações principais, a escola terá “uma foto completa do aluno” ao final do ano. “A gente consegue ver o que ele traz de bagagem e o que desenvolveu. Um retrato antes e depois e qual foi o efeito da escola”, pondera o analista de Educação Básica.
Com os resultados, é a hora de intervir
Todos os resultados foram consolidados e estão disponíveis em uma plataforma. Os diretores e professores já têm acesso aos dados separados nos níveis: abaixo do básico, básico, adequado e avançado. Os relatórios mostram o percentual de acertos por habilidade, quantidade de acertos, comparativo com outras escolas e análise individual de cada aluno.
Segundo Carmelita Cavalcante, diretora da unidade SESI Araguaína, em Tocantins, os professores e gestores estão empenhados em traçar estratégias e trabalhar em conjunto para sanar as lacunas ocasionadas pelo isolamento social.
“Nós estamos com resgate no contraturno, professores estão chamando alunos. No dia a dia, há várias listas de exercício para poder fechar essas habilidades em deficiência”, conta. “Já a nossa ação como gestão é conscientizar os pais. A escola ensina, mas em casa precisa ter suporte.”
A unidade atende alunos desde o 6º ano ao 3º do ensino médio. Todos os 460 alunos participaram da aplicação das provas. A gestora acredita que o Passe irá somar forças. “O programa vem para ajudar a escola nesse processo tão difícil e árduo que é motivar o aluno. A escola detectar essas deficiências com um programa como o Passe ajuda demais nos dando esse retorno de como o aluno está. E é isso que a gente quer: gestão de tempo”, ressalta.
Denize Marques, do SESI-DF, acrescenta que um grande ganho do Passe são questões com foco no material didático autoral do SESI. “A Avaliação Diagnóstica traz uma análise melhor para a gente perceber se alguma coisa não está em conformidade”, pondera. “Foi uma devolutiva muito precisa e personalizada.”
As principais lacunas encontradas no DR foram questões básicas de aprendizagem, principalmente em linguagens. A estratégia agora para os 1.832 estudantes são sessões de monitoria no contraturno. Aqueles que tiveram um bom desempenho, inclusive, foram chamados para ser monitores.
Do ponto de vista dos estudantes
Um dos 101 mil estudantes da rede que participou dessa primeira edição do Passe foi Gabriel Pamplona, de 16 anos. O estudante do SESI José de Paiva Gadelha, em Sousa (PB), pretende cursar medicina e não achou as avaliações cansativas, pois já faz simulados semanais de forma autodidata visando uma futura aprovação. Ele acha “benéfico esses tipos de simulados e provas como a Avaliação Diagnóstica que ajudam o aluno na preparação para o ENEM”.
Gabriel se considera um “garoto da área de exatas” e prefere matemática a linguagens, mas segundo ele, conseguiu se sair bem em ambas as avaliações.
Quem se deu bem na prova de matemática foi Samuel Amorim, 17, estudante do 3º ano do Novo Ensino Médio do SESI Sobradinho (DF). Ele entrou na rede durante a pandemia e descreve esse período como “bem difícil”, mas conseguiu estudar em casa.
Fã dos exercícios no papel, Samuel teve que se adaptar à realidade das atividades on-line, mas, de volta ao novo normal, a Avaliação Diagnóstica foi como um nivelamento. Ele achou o conteúdo bem dividido. “Foi bom para ver o nivelamento do aluno, de certa forma ajuda o que precisa melhorar e o que está bom”, comenta. “Na prova, tiveram algumas questões que achei mais fáceis, médias e outras não sabia.”
Já na casa de Jullyana Silva, 18, do SESI Araguaína, as distrações foram o pior inimigo durante a pandemia. O retorno à vida normal foi um alívio para a jovem. Ela conta que teve um desempenho bom nas provas graças aos “métodos de aprendizagem do Novo Ensino Médio, que estão sendo eficazes”.
Nas aulas das disciplinas de exatas, por exemplo, os professores identificaram as lacunas a partir do Passe e apostam em aulas práticas em laboratório e exercícios. Jullyana quer cursar direito, e a avaliação foi um ótimo meio de identificar conteúdos que ela precisa focar.
“A Avaliação Diagnóstica me fez observar com cuidado quais eram as minhas dificuldades e suas determinadas áreas. Agora, tenho mais ciência do que preciso focar e estudar com maior precisão”, conclui.
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