Chacina de Pioz: absolvido na Paraíba vira youtuber e não quer ser ligado a assassino


'[Patrick] é uma pessoa que eu gostaria de deixar no passado', disse Marvin Henriques, que falou publicamente pela primeira vez, sete anos após o crime, em série espanhola. Assista ao trailer de 'No se lo digas a nadie' Marvin Henriques Correia - jovem paraibano que chegou a trocar mensagens com Patrick Nogueira, sobrinho de uma das vítimas e condenado pela morte de quatro pessoas da mesma família de brasileiros na Espanha, no crime que ficou conhecido como a Chacina de Pioz - falou publicamente pela primeira vez, sete anos após o crime, que aconteceu em agosto de 2016. “Fiz um canal no YouTube. Eu quero realmente que as pessoas pesquisem meu nome e descubram que eu tenho muito mais coisa a oferecer do que apenas essa mancha no meu passado, que mostra uma imagem de alguém que eu não sou”, disse Marvin. O depoimento foi exibido no último episódio da série espanhola “No se lo digas a nadie” (“Não conte a ninguém”, em tradução livre), disponibilizado na plataforma Atresplayer Premium, do conglomerado de mídia Atresmedia Group, no domingo (18). Assista ao trailer acima, em espanhol. Marvin foi absolvido sumariamente da acusação de ser partícipe da chacina, em 2021, pois a Justiça entendeu que ele não participou do homicídio e não praticou nenhum crime tipificado no Código Penal Brasileiro. Patrick Nogueira (direita) foi condenado por matar tio e esposa e os sobrinhos crianças, no crime que ficou conhecido como Chacina de Pioz. Marvin (esquerda) conversou com Patrick pelo WhatsApp, durante o crime, estando em João Pessoa. Reprodução/Twitter/Arquivo Marvin foi acusado pela Polícia Civil da Paraíba de ser partícipe do crime - por ter trocado mensagens em tempo real com Patrick, pelo WhatsApp e “incentivado” o condenado pelo crime a matar o próprio tio, Marcos Nogueira, horas depois de Patrick já ter assassinado a esposa de Marcos, Janaína Américo, e os primos de um e quatro anos - e de “dar dicas de como esconder os corpos”. “Eu mudei muito desde que o fato aconteceu. Quanto ao Patrick, eu lamento que tenha acontecido assim. Eu não gosto de saber da vida dele, é uma pessoa que eu gostaria de deixar no passado. [...] Acredito que paguei uma boa dose de sofrimento e que fui bem punido em relação ao meu erro. Meu passado não pode ser uma sentença eterna, o passado para mim é mais uma lição”, contou o jovem. Marvin Henriques Correia falou publicamente sobre a Chacina de Pioz após sete anos do crime, em série espanhola Reprodução/Atresplayer 'Não conte a ninguém' A série espanhola foi exibida em cinco episódios no Atresplayer e o g1 assistiu a todos. O documentário reconta o caso, relatando desde a ida da família brasileira para a Espanha; a história de Patrick; o crime propriamente dito; a descoberta do caso; a reviravolta em relação às mensagens entre Patrick, em Pioz, e Marvin, em João Pessoa, que foram fundamentais para a solução do crime; a reação de amigos e da família dos jovens, e o julgamento de Patrick, que foi condenado à prisão permanente revisável, na Espanha, em 2018. Além de imagens da imprensa, o documentário é contado por meio de entrevistas exclusivas com Marvin; amigos dele e de Patrick; familiares das vítimas; jornalistas e policiais do Brasil e da Espanha; e advogados do caso. A série foi gravada em 2021 e exibida aos domingos ao longo deste mês de junho. Dirigida por Juan Carlos Arroyo e com produção executiva de Luz Aldama e Teresa Latorre, o documentário contou com uma equipe de investigação na Espanha e no Brasil, formada por Raquel Hernández Morán, Patrícia Zaidan e Paula López Barba. Ainda não há previsão de transmissão por nenhuma plataforma brasileira. 'No se lo digas a nadie' é uma série documental que vai focar no crime conhecido como Chacina da Espanha Divulgação/Atresmedia Player Familiares também comentam o caso Um dos relatos disponibilizados no último episódio da série foi o de Jaqueline Campos, irmã de Marcos Nogueira e tia de Patrick. Ela relata que espera que o sobrinho se arrependa e mude dentro da prisão, e que perdoou os envolvidos. “Não seria justo perdoar Patrick e não perdoar Marvin”, contou. A mãe dela e avó de Patrick, Maria das Graças Campos, também diz que a família permanece unida, apesar da tristeza. “Meu filho se foi, não volta mais, então eu tenho que continuar. [...] Não vou dizer que eu esqueço o que houve com meu filho, de maneira alguma. O que Patrick fez eu não esqueço, mas não existe aquele ódio, existe aquela tristeza, pelo que ele fez. É uma tristeza grande, mas dizer ‘eu odeio, eu não perdoo’, isso não existe na minha casa”, completou. Já para a família de Janaína Américo, esposa de Marcos Nogueira, ainda há uma sensação de impunidade, em relação à situação de Marvin. “Esses rapazes, tanto Patrick, quanto Marvin, destruíram a família da gente. [...] O lado bom é que a gente viu que o Patrick foi julgado, não teve mais volta para esse. O daqui, Marvin, está vivendo em flores”, disse George Américo, irmão de Janaína. Chacina de Pioz Os corpos da família de paraibanos foram encontrados pela Guarda Civil espanhola no dia 18 de setembro de 2016, cerca de um mês depois do crime. Eles estavam em sacolas, dentro da casa que havia sido alugada pela família. A família era de João Pessoa e tinha ido morar na Europa por causa de uma oportunidade de emprego que Marcos conseguiu em um restaurante. As mortes só foram descobertas após vizinhos notarem um odor saindo da residência. A família, no Brasil, não desconfiou da morte pois era comum que o casal passasse algum tempo sem dar notícias. Marcos Nogueira, Janaína Américo e os dois filhos do casal foram encontrados mortos na Espanha Reprodução/Facebook/Janaina Diniz Diniz François Patrick Nogueira Gouveia matou a própria família Inicialmente a Guarda Civil espanhola trabalhou com a possibilidade de que o crime tivesse acontecido por ajuste de contas. Porém, com o avançar das investigações, descartou-se essa tese e, 15 dias após a descoberta dos corpos, o caso foi dado como encerrado. François Patrick Nogueira Gouveia, sobrinho de Marcos, foi apontado como único suspeito, após a polícia achar material genético dele no local do crime. Caso Pioz: Fantástico mostra, com exclusividade, conversa entre Patrick e Marvin Surpreendentemente, no dia 28 de outubro, a Polícia Civil da Paraíba anunciou a prisão de um segundo suspeito de envolvimento nas mortes. A prisão preventiva de Marvin Henriques Correia foi pedida pelo Ministério Público, que acreditava que o jovem de 18 anos participou do crime, mesmo à distância. Ele trocou mensagens via WhatsApp com Patrick, enquanto este executava o crime. Marvin alerta Patrick sobre a saída dele do local do crime durante a conversa Reprodução/Polícia Civil da Paraíba Condenado à prisão perpétua na Espanha Em 2018, Patrick foi condenado a três penas de prisão perpétua por ter matado o tio e primos. Patrick também foi condenado a uma quarta pena, de 25 anos de prisão, pelo assassinato da esposa do tio dele, na mesma ocasião. Ao revisar um recurso feito pela defesa dele, o Supremo Tribunal da Espanha manteve a condenação e reuniu as penas em uma só condenação. Na Espanha, a prisão perpétua acontece por meio da prisão permanente revisável, que é a punição mais grave existente no país. No caso, a pena pode ser revista a cada 25 anos. Além desta decisão, a Justiça também condenou Patrick a pagar uma indenização de 411.915 euros para a família das vítimas e para o proprietário da casa onde o crime aconteceu. Patrick foi condenado à prisão permanente revisável, uma espécie de prisão perpétua, na Espanha, em 2018 TV Cabo Branco/Reprodução Absolvição de Marvin Marvin Henriques, que havia sido acusado de ter participado da morte do tio de Patrick, uma vez que teria trocado mensagens e dado dicas ao assassino, foi absolvido de ser cúmplice da chacina em julho de 2021. A Justiça paraibana entendeu que ele não praticou nenhum crime tipificado no Código Penal Brasileiro, sendo assim impossível de ser condenado. Na sentença, a juíza Aylzia Fabiana Borges Carrilho, do Segundo Tribunal do Júri de João Pessoa, argumentou que “não restam dúvidas que os fatos narrados na denúncia, no que diz respeito ao réu Marvin, não constituem uma infração penal. No máximo, poderiam ser considerados como atos preparatórios; contudo, em nosso ordenamento jurídico não há tipicidade em condutas subjetivas”. Ela ainda ressaltou que “a função do Poder Judiciário é fazer justiça, mas não a qualquer custo. Ao poder discricionário de julgar de um magistrado cabe os limites do nosso ordenamento jurídico”. Vídeos mais assistidos da Paraíba Initial plugin text
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