Para analistas, aprovação de Galípolo para o BC é dada como certa no Senado e deve ter efeito positivo sobre relação entre Lula e autarquia
A sabatina de Gabriel Galípolo, atualmente secretário-executivo do Ministério da Fazenda, na Comissão de Assuntos Economicos (CAE) do Senado Federal e votação de sua indicação para o cargo de diretor de Política Monetária do Banco Central no plenário da casa legislativa não devem oferecer dificuldades ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na avaliação de analistas políticos consultados pelo InfoMoney.
É o que indica a 45ª edição do Barômetro do Poder, levantamento feito mensalmente com consultorias e analistas independentes sobre alguns dos principais temas em discussão na política nacional. Clique aqui para acessar a íntegra.
O estudo, realizado entre os dias 30 de maio e 1º de junho, mostrou que 85% dos especialistas consultados veem chances “muito altas” de o plenário aprovar, em votação secreta, a indicação de Galípolo para o Banco Central. Outros 8% indicam probabilidade “alta” de o cenário se confirmar – mesmo patamar daqueles que veem chances “muito baixas” de êxito para o pleito do governo.
Considerando uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a probabilidade média atribuída pelos analistas políticos para a aprovação da nomeação de Galípolo para o cargo de diretor de Política Monetária – um dos mais importantes na autarquia – ficou em 4,62.
O quadro reforça a percepção da boa relação construída pelo economista no mundo político apesar do pouco tempo de convivência em Brasília, afastando o risco que a participação ativa na campanha de Lula para a presidência em 2022 poderia oferecer à indicação para uma posição técnica na administração pública. Ex-presidente do Banco Fator, ele atuou como importante interlocutor do petista junto ao mercado durante a disputa eleitoral e ajudou a reduzir o ceticismo de investidores sobre o novo governo.
A sabatina de Galípolo na CAE está marcada para daqui a duas semanas, em 27 de junho. Na mesma data, também será inquirido pelos senadores integrantes do colegiado Ailton Aquino, servidor de carreira do BC indicado por Lula para a diretoria de Fiscalização da autoridade monetária. Se aprovado, ele será o primeiro negro a ocupar uma posição de diretor na instituição.
O Barômetro do Poder também mostrou que, caso a nomeação de Galípolo passe no Senado, analistas políticos esperam uma melhora nas relações mantidas entre Lula e o Banco Central, hoje comandado por Roberto Campos Neto – indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que tem mandato até o fim do ano que vem.
Para 46% dos especialistas consultados, o evento seria “positivo” ou “muito positivo” para uma relação mais harmônica entre as partes. Outros 54% apostam em um impacto “moderado”. Ninguém espera uma piora nas relações caso o economista consiga assumir o novo cargo nas próximas semanas.
No dia em que comunicou a indicação de Galípolo para o BC, em 8 de maio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse que seu atual subordinado está indo para a nova posição “com autonomia necessária para cumprir a lei” e com o “comando” de “buscar harmonizar a política fiscal e a política monetária”.
Declarações recentes de Galípolo podem indicar como a missão será executada no dia a dia do novo cargo. Três semanas atrás, ele disse que o ceticismo do mercado com a equipe econômica do governo está sendo “gradativamente” vencido com ações lançadas e citou a melhora de indicadores econômicos.
Ontem, o indicado afirmou que o BC “vem fazendo um trabalho (…) para colher” a desaceleração da inflação. “Tenho certeza que ninguém no Banco Central tem qualquer tipo de desejo de manter a taxa juros alta. Acho que é uma política calcada no que realmente se acredita que é o caminho”, acenou.
A condução da política monetária, com a manutenção da taxa básica de juros (a Selic) a 13,75% ao ano, foi um dos principais alvos de críticas de Lula desde que retornou ao Palácio do Planalto para um terceiro mandato. Em diversas situações, ele disse que o percentual era exagerado e que prejudicava o desempenho da economia brasileira. Ele chegou a questionar mais de uma vez a eficácia da autonomia da autarquia, aprovada pelo Congresso Nacional na legislatura anterior.
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central está marcada para a próxima semana. Com dados abaixo do esperado para a inflação nos últimos meses, deve crescer a pressão para a antecipação de um afrouxamento monetário, mas as apostas majoritárias do mercado são de que o movimento fique para o segundo semestre. Nas reuniões subsequentes, inclusive, serão esperadas as participações de Galípolo e Aquino.
Outro tema levantado nos últimos meses foi a possibilidade de mudanças na meta de inflação utilizada pelo Banco Central para a definição dos rumos da política monetária. Neste caso, dois pontos entram em discussão: 1) uma eventual mudança na metodologia para as metas, com o abandono do “ano-calendário” (janeiro a dezembro) e a adoção de uma “meta contínua” com prazo mais flexível; 2) mudanças nos parâmetros de objetivos já estabelecidos, seja o centro da meta ou a banda de tolerância.
Para este ano, a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3,25%. Ela cai para 3,00% nos dois anos seguintes. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Integrantes da equipe econômica sustentam que mudança em objetivos já estabelecidos não estão nos planos do governo neste momento. Mas a possível alteração da metodologia usada para o sistema de metas vigente é considerada mais provável e é frequentemente defendida por Haddad.
A edição de maio do Barômetro do Poder também ouviu os analistas políticos sobre as expectativas para a próxima reunião do CMN – hoje composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB); além do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
De 5 pontos testados no questionário, a possível mudança metodológica já no encontro de 29 de junho é vista com mais alta probabilidade. Para 61% dos especialistas ouvidos, são altas as chances neste caso. Outros 15% indicam probabilidade baixa, enquanto 23% preferem adotar postura cautelosa. Em uma escala de 1 (muito baixa) a 5 (muito alta), a probabilidade média atribuída pelos analistas políticos para o evento ficou em 3,62.
Na sequência, aparece a possibilidade de os integrantes do CMN aprovarem uma meta de inflação para 2026 cujo centro ou a banda de tolerância sejam superiores àqueles parâmetros estabelecidos para 2024 e 2025. Neste caso, 23% veem probabilidade elevada, enquanto 31% têm avaliação contrária. Na escala de 1 a 5, a probabilidade média para a definição de uma meta mais “frouxa” já nesta reunião do conselho ficou exatamente no meio do caminho: 3,00.
Foram testadas também as chances de mudanças em metas de inflação já estabelecidas pelo CMN. Em todos os casos, as avaliações de baixa probabilidade superam com folga as apostas de risco elevado.
Esta edição do Barômetro do Poder ouviu 10 consultorias políticas – Control Risks; Dharma Political Risk & Strategy; Empower Consultoria; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas; Ponteio Política; Prospectiva Consultoria; Pulso Público; Tendências Consultoria Integrada; e XP Política – e 3 analistas independentes – Antonio Lavareda (Ipespe); Carlos Melo (Insper); e Thomas Traumann.
Conforme acordado previamente com os participantes, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e dos comentários.
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