Lula reconhece que esquerda é minoria e diz que é preciso “conversar muito” para aprovar projetos no Congresso

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez aceno nesta sexta-feira (02) à necessidade de melhorar a articulação com os parlamentares, destacando que a esquerda é minoria na atual correlação de forças no Congresso Nacional.

Em cerimônia na Universidade Federal do ABC (UFABC), no Estado de São Paulo, Lula disse que não basta ganhar a eleição, mas é preciso “conversar muito”, inclusive com aqueles que não gostam do governo e que não votaram nele, para aprovar medidas no Legislativo.

Entre os presentes estava o ministro da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), um dos responsáveis pela interlocução com o Congresso Nacional e um dos principais alvos de críticas de parlamentares nos últimos dias.

Nesta semana, a aprovação da medida provisória que dispõe sobre a estrutura administrativa do Poder Executivo (MPV 1154/2023) no Congresso expôs rachaduras na relação entre o Planalto e o Legislativo. Apesar dos 337 votos favoráveis na Câmara dos Deputados, não faltaram manifestações de insatisfação dos deputados com a articulação política do governo.

Para destravar a votação, Lula teve que entrar pessoalmente nas negociações. Em paralelo, o governo acelerou a liberação de R$ 1,7 bilhão em emendas parlamentares – a maior quantia liberada em um único dia na atual gestão.

Em meio aos ruídos na relação, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), indicou que a aprovação da medida provisória foi resultado sobretudo da postura de líderes de partidos independentes, que “reconheceram a necessidade de dar mais uma oportunidade ao governo” em meio aos tropeços na interlocução com o parlamento.

O parlamentar, no entanto, disse que este teria sido o último gesto de boa vontade da casa legislativa com o governo. “É importante que se diga e deixe claro que, daqui para frente, o governo vai ter que andar com as suas pernas. Não haverá mais nenhum tipo de sacrifício”, disse a jornalistas na madrugada de quarta-feira (31).

A fala de Lula nesta sexta-feira pode ser interpretada como um recado aos operadores do governo no Congresso, visando outros desafios que se avizinham. Considerada como uma das prioridades da agenda econômica para este ano, juntamente com o arcabouço fiscal, a reforma tributária deverá iniciar sua tramitação nas próximas semanas, na Câmara dos Deputados.

No Grupo de Trabalho criado para tratar do tema no Congresso, setores como o agronegócio e serviços têm se queixado de uma possível oneração excessiva em um novo regime tributário. Por se tratar de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), a aprovação depende de apoio de 3/5 dos deputados em dois turnos de votação, no que deverá representar um novo esforço de articulação.

(com Reuters)

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