Ano da ‘Barbárie de Queimadas’ foi o mais violento para mulheres da Paraíba na última década


Em 2012, ano em que duas mulheres foram assassinadas após um estupro coletivo em Queimadas, outras 137 mulheres também foram assassinadas na Paraíba. Estupro coletivo e assassinato de mulheres: Barbárie de Queimadas foi tema do Linha Direta desta quinta-feira (11) Reprodução/TV Globo No ano em que Izabella Pajuçara e Michelle Domingos foram mortas, em 2012, após serem vítimas de um estupro coletivo, em Queimadas, na Paraíba, outras 137 mulheres foram assassinadas no estado. O ano que marcou o caso conhecido como Barbárie de Queimadas foi o mais violento para as mulheres na última década. O g1 teve acesso, via Lei de Acesso à Informação, aos dados de assassinatos de mulheres de 2012 a 2022. Barbárie de Queimadas: relembre cronologia e investigação do crime A Barbárie de Queimadas aconteceu em fevereiro de 2012. Naquele ano, a Lei do Feminicídio ainda não havia sido sancionada. O crime só se tornaria hediondo em 2015 - com sanção da então presidenta Dilma Rousseff (PT) - quando as mulheres mortas pelo simples fato de serem mulheres passaram a entrar no mapa dos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) com nome, rosto e história. Mas até lá, como também explica o Núcleo de Análise Criminal e Estatística da Secretaria de Segurança e Defesa Social do Estado, os feminicídios estavam inseridos nas estatísticas de homicídios dolosos. Priscila, Michele e Izabella, vítimas da Barbárie de Queimadas Reprodução/TV Globo Na Barbárie de Queimadas, ocorrida em 2012, cinco mulheres foram estupradas durante uma festa de aniversário e duas delas - Izabella Pajuçara e Michelle Domingos - foram assassinadas porque teriam reconhecido os agressores. Eduardo Santos foi o último dos envolvidos no crime a ser julgado. Ele foi condenado a 108 anos de prisão, mas em 2020 fugiu do presídio saindo pela porta lateral. Eduardo segue foragido. Outros seis homens também foram condenados e três adolescentes foram sentenciados a cumprirem medidas socioeducativas. Naquele ano, 137 mulheres foram assassinadas. Ao todo, 133 foram vítimas de homicídio doloso, quatro foram vítimas de latrocínio e duas de agressão seguida de morte. Nos anos seguintes, os números de latrocínio e lesão corporal seguida de morte contra mulheres seguem uma estabilidade. Nos anos de 2013 e 2014, quando a Lei do Feminicídio ainda não estava em vigor, 118 e 104 mulheres foram mortas, respectivamente. O número sobe em 2015, com 113 assassinatos de mulheres, sendo, desse total, 26 feminicídios. Conforme a lei nº 13.104, que data o dia 9 de março de 2015, feminicídio é o assassinato de uma mulher cometido devido ao fato de ela ser mulher ou em decorrência de violência doméstica. A partir de 2016, portanto, o número total de CVLI contra mulheres começou a cair em relação aos anos anteriores, mas assumindo uma instabilidade. Veja no gráfico abaixo os números de Crimes Violentos contra vítimas do sexo feminino na Paraíba de 2012 a 2022. LEIA TAMBÉM: Mentor da 'Barbárie de Queimadas' abriu almoxarifado e fugiu pela porta do presídio de segurança máxima Barbárie de Queimadas marca década As mortes de Briggida Rosely, Fernanda Ellen, Vivianny Crisley, Júlia dos Anjos, Patrícia Roberta, Lorrayne Damares, Anielle Teixeira, Pâmela do Nascimento, entre tantas outras mulheres assassinadas e, muitas vezes, também abusadas, mostram que o ano de 2012 não serviu de exemplo. O estupro coletivo em Queimadas foi mais um caso na uma série de violências contra a mulher no decorrer da década. Algo mudou, é verdade. Afinal, a Lei de Feminicídio foi sancionada e outras conquistas legislativas também entraram em pauta. Mas crimes hediondos contra mulheres continuaram a acontecer. Pixação lembra morte de Vivianny, em João Pessoa Krystine Carneiro/G1 A Barbárie de Queimadas foi tema do Linha Direta na quinta-feira (11), que colocou luz em um crime cometido há mais de dez anos e que segue em aberto. De alguma forma, denunciar e falar sobre os casos encoraja outras mulheres expor seus agressores. Priscila Frazão Monteiro foi uma das vítimas sobreviventes de Queimadas e irmã de uma das mulheres mortas. No programa Linha Direta ela falou publicamente sobre o crime pela primeira vez. "Não é fácil. Ao mesmo tempo que eu estava velando a minha irmã e a minha amiga, eu tinha que ser forte para relatar tudo que aconteceu de uma forma que eles, enquanto Polícia Civil, acreditassem em mim e fossem prender todos que tinham feito aquilo com todas nós", desabafa Priscila Frazão. Priscila Frazão Monteiro, vítima e irmã de Izabella, falou publicamente sobre o caso pela primeira vez Reprodução/TV Globo Apesar da dor do luto e da memória do estupro coletivo que ainda lateja, Priscila quis destacar a importância de falar. De colocar luz sobre a violência para tentar diminuí-la. A luta é árdua. Mas salvar uma mulher já faz a diferença. "É difícil, enquanto vítima, ter que lutar por justiça, buscar a justiça, ter que reviver toda a cena do acontecido, é difícil enquanto vítima relatar várias vezes, mas é necessário. É necessário que a gente se fortaleça, relate, e busque por justiça. É muito importante que as mulheres possam ser fortes e se encorajem a buscar e lutar pela justiça. Fale, sem vergonha nenhuma, mas é preciso falar", finaliza. Barbárie de Queimadas aconteceu em 2012, no interior da Paraíba Reprodução/TV Globo Vídeos mais assistidos da Paraíba
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