Petrobras (PETR4) seguiu política de preços e foi até conservadora ao cortar diesel em 10%, mas até quando?

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A Petrobras (PETR3;PETR4) informou na última sexta-feira (28) que reduzirá a partir deste sábado (29) o preço médio de venda de diesel para as distribuidoras em 9,9%, uma vez que a empresa busca adequar sua cotação a variáveis como câmbio e valor do petróleo, além de questões de competitividade com o produto importado.

O preço médio na refinaria cairá de R$ 3,84 para R$ 3,46 por litro, uma redução de R$ 0,38 por litro, segundo comunicado de empresa da véspera.

A diminuição era aguardada pelo mercado, uma vez que os preços da Petrobras estão acima dos valores internacionais e também do produto importado que está chegando ao Brasil, especialmente com origem na Rússia. Analistas esperavam até que a empresa pudesse ter reduzido mais o valor.

Além disso, a mudança no preço da Petrobras ocorre ainda antes de uma alteração na cobrança do tributo estadual ICMS, prevista para acontecer em 1º de maio, que poderia gerar impacto inflacionário, o que será aliviado pela redução no preço na refinaria, segundo analistas.

“Participantes de mercado enxergaram na recente queda de preços no mercado internacional uma oportunidade para a Petrobras passar esta redução dias antes da implementação do regime monofásico de diesel, que tenderia a acarretar em um aumento de preço do diesel para o consumidor final”, disse o especialista de combustíveis da Argus, Amance Boutin.

“Esta sincronização permite reduzir o efeito inflacionário da reforma do regime tributário sobre o diesel, em linha com os esforços do governo e do Banco Central”, acrescentou.

Outra consultoria, a StoneX, também citou a questão tributária, ressaltando que, “entre redução na refinaria e elevação tributária, no líquido há expectativa de queda nos preços de diesel praticados no Brasil”.

A partir do início de maio será estabelecida uma cobrança ad rem (isto é, por um valor fixo por unidade de medida) para diesel e biodiesel de R$ 0,9456 por litro, e não mais um percentual, na medida em que Estados tentam se adequar à lei sancionada no ano passado pelo então presidente Jair Bolsonaro. Uma segunda legislação estabeleceu um limite para a incidência do ICMS sobre os combustíveis, sob o argumento de se tratar de um produto essencial, em meio aos esforços para conter a inflação no período eleitoral.

O Itaú BBA também destaca o contexto de mudanças tributárias iminentes podendo contribuir para as decisões da Petrobras.

“Nos próximos meses, são esperadas diversas mudanças em impostos para combustíveis tanto a nível federal quanto estadual. Em âmbito federal, o retorno integral do PIS/COFINS e CIDE para gasolina e etanol estão previstos para julho. Já o ICMS (estadual) passará a ser determinado como ad-rem para diesel e LPG em maio, enquanto para gasolina e etanol em junho”, cita o banco.

Na visão dos analistas, o impacto deve ser positivo para as distribuidoras com ganho nos estoques (se preços de fato aumentarem na bomba), enquanto as mudanças nos impostos devem intensificar a pressão sobre a política de preços da Petrobras, visando minimizar o impacto de preço para consumidor final.

ESPAÇO PARA REDUZIR

Para o especialista em energia Adriano Pires, do centro de estudos CBIE, a Petrobras ainda teria espaço para reduzir mais o preço do combustível mais consumido no Brasil.

“Essa queda no diesel já era esperada porque havia um prêmio de R$ 0,56 por litro de diesel (ante o valor externo). Agora, com a redução de R$ 0,38, ainda sobra alguma coisa. Não zerou a defasagem”, disse Pires.

Segundo ele, o mercado já esperava essa redução na semana passada. “Mas a Petrobras demorou um pouco. Continuamos na política de paridade internacional, tem prêmio, tem que reduzir preço”, acrescentou Pires.

A Petrobras também pode estar perdendo mercado para o produto importado, o que seria um fator para reduzir o preço.

O produto importado da Rússia tem chegado a preços mais baixos, disseram especialistas à Reuters neste mês.

A StoneX também concorda que há espaço para mais redução nos preços do diesel, além da gasolina, em percentuais estimados de cerca de 9%.

Desde o início do ano, a Petrobras reduziu o preço médio do diesel em cerca de 23%, conforme cálculos da Reuters com base em dados da empresa. Com a redução no sábado, a cotação será a menor desde o início de 2022.

Especialistas concordam que a Petrobras mantém uma política de preços conectada ao mercado internacional e ao câmbio.

Mas se perguntam, diante das declarações anteriores de integrantes do governo Lula sobre política de preços, se ela seria seguida se as cotações no mercado externo estivessem subindo.

“Por enquanto a empresa continua seguindo a paridade de preços, mas resta saber até quando. Pelas declarações do novo governo, haverá uma nova política de preços considerando aspectos da produção doméstica”, disse o consultor e ex-diretor de Refino da Petrobras Jorge Celestino.

Na véspera, assembleia de acionistas da Petrobras aprovou integrantes do novo Conselho de Administração da companhia sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o que em tese poderá abrir caminho para as estratégias prometidas em campanha e defendidas pelo CEO Jean Paul Prates.

Entre as mudanças prometidas estavam alterações nas políticas de preços e dividendos, além de um novo planejamento para a companhia, que passará a investir em transição energética.

Para o sócio-diretor da Raion Consultoria, Eduardo Oliveira de Melo, a Petrobras pode ter adotado uma postura conservadora, ao não reduzir mais o preço do diesel.

“Entendemos que a redução poderia ser maior, só que a Petrobras acabou tomando uma decisão estratégica, pós-nomeação do conselho de administração, coincide com isso, de soltar o reajuste de forma parcial. Poderia ter tido um ajuste maior, só que ela adotou na nossa leitura uma postura mais conservadora, aplicando apenas uma parte dele”, disse Melo.

Já a Petrobras disse que a redução do preço “tem como objetivos principais a manutenção da competitividade dos preços da companhia frente às principais alternativas de suprimento dos seus clientes e a participação de mercado necessária para a otimização dos ativos de refino”.

A companhia também reforçou que “na formação de seus preços busca evitar o repasse da volatilidade conjuntural do mercado internacional e da taxa de câmbio, ao passo que preserva um ambiente competitivo salutar nos termos da legislação vigente”.

Enquanto aguardam por mais definições, analistas de mercado seguem cautelosos com as ações da estatal. De acordo com compilação feita pela Refinitiv, de 13 casas de análise que cobrem o ADR (recibo de ações negociado nos EUA) PBR (equivalente ao ordinário) da Petrobras, três possuem recomendação de compra, nove de manutenção e um de venda, o que sinaliza a cautela geral do mercado com os ativos. O preço-alvo médio é de US$ 13,62 por papel.

(com Reuters)

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Equipe InfoMoney

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