Poeta paraibano traduz poemas russos em cordel: ‘muito parecido com folhetos nordestinos’

Vontade de traduzir os poemas russos veio quando ele visitou um sebo de livros raros, na Rússia. Antes de fazer o trabalho de tradução, ele estudou a obra do poeta Óssip Mandelstam por três anos. Poeta campinense e mestre em literatura russa Astier Basilio Arquivo Pessoal/Astier Basilio O poeta paraibano Astier Basílio traduziu nove poemas russos do escritor Óssip Mandelstam e os juntou em um cordel chamado de ‘Sal no Machado’. O lançamento do folheto será nesta quinta-feira (25), na sede da Academia Paraibana de Letras. (veja uma das traduções na íntegra no fim da matéria). Natural de Campina Grande, e mestre em literatura russa, Astier contou que a vontade de traduzir os poemas veio quando ele visitou um sebo de livros raros, na Rússia, pois, segundo o poeta, alguns livros que tinham lá pareciam com folhetos em cordel. “Vi a primeira edição de várias obras de poetas como Iessiênin, Akhmátova, Pasternak e, do ponto de vista editorial, era muito parecido com os folhetos dos cordelistas nordestinos”, disse. O mestre em literatura russa informou que os poemas que foram traduzidos para o ‘Sal no machado’ são de temática política. Antes de fazer o trabalho de tradução, ele estudou a obra do poeta russo Óssip Mandelstam por três anos. Ele explica que por se tratar de um tema complexo e metafórico, o folheto é comentado. “Mandelstam é um poeta, ao mesmo tempo, muito metafórico, e de certa forma difícil, mas que escreveu tendo como fonte de inspiração os episódios de sua própria vida”, afirmou. Os poemas traduzidos são: Capa do cordel 'Sal no machado' Divulgação/Astier Basilio Sal no machado; À noite no quintal, um rosto foi lavado; Tempo; Leningrado; Na cozinha nós dois e lá se sente; Tíbia e sem pão, Crimeia. Primavera fria…; Lar sem alarido, igual a papel; Nós vivemos sem estar mais sentindo o país…; Se os inimigos nossos me pegarem. Rússia e Nordeste Para além da percepção pessoal sobre a ligação entre a poesia russa e a poesia popular nordestina, Astier avalia que há muitas ligações. “Primeiramente, são duas tradições poéticas extremamente musicais que trabalham, de modo criativo, o repertório de formas fixas. A oralidade também é algo em comum. Óssip Mandelstam, por exemplo, não escrevia os seus poemas: compunha-os de cabeça e depois os textos eram escritos por sua mulher Nadejda. Algo que o aproxima de Augusto dos Anjos, que também costumava compor desta forma” contou. Poema 'NA COZINHA NÓS DOIS E LÁ SE SENTE...' na integra Na cozinha nós dois e lá se sente A querosene branca, docemente. Faca afiada ao karavai, o pão, Se quiser, ligue no tranco o fogão, Mas não, tome estas cordas para ser Amarradas à cesta até o amanhecer A fim de irmos à estação de trem Onde não iria nos achar ninguém Óssip Mandelstam - Janeiro de 1931 (Tradução Astier Basilio) Quem foi o Óssip Mandelstam? Poeta Óssip Mandelstam Arquivo Pessoal/Astier Basilio Óssip Mandelstam nasceu na capital da Polônia, Varsóvia, ele foi para a Rússia quando tinha três anos de idade. O poeta é filho de uma família de comerciantes judeus e estudou por dois anos em uma na Universidade Sorbonne, em Paris. O escritor chegou a ser preso, em 1934, no sul da Rússia, na cidade de Voronej, por atividades anti soviéticas depois de escrever o poema que ficou conhecido como “Epigrama de Stalin”, ou Epigrama de Stalin. Ele morreu, em 1938, no campo de trabalhos forçados, em Vladivostok, quando foi preso pela segunda vez. * Sob supervisão de Jhonathan Oliveira Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba