Nordestern: gênero ressurge e tem ‘explosão’ de histórias de bangue-bangue à brasileira


'Nordestern' ganhou força com produções como 'Cangaço Novo' e 'Guerreiros do Sol', de canais de streaming. Termo faz referência ao 'western' americano. Isadora Cruz e Thomás Aquino em Guerreiros do Sol Globo/Estevam Avellar O audiovisual brasileiro tem ganhado diversas produções inspiradas no cangaço, ou no "bangue-bangue" nordestino. Com o ressurgimento do gênero chamado Nordestern, cidades, atores e vários outros profissionais da indústria cinematográfica da região estão vivendo um boom de gravações, principalmente para canais de streaming como o Globoplay. Neste domingo, 8 de outubro, é comemorado o Dia do Nordestino. O termo Nordestern ainda é desconhecido por muita gente. Ele faz referência ao "western" gênero cinematográfico americano que explora produções sobre as aventuras do Velho Oeste, segundo a Cinemateca Brasileira. A nomenclatura dada ao gênero no Brasil é inspirada no cangaço nordestino, movimento ocorrido entre o fim do século XIX e início do século XX, e foi pensada pelo crítico Salvyano Cavalcanti de Paiva. O gênero se popularizou no início do século XX, com a presença de produções cinematográficas sobre o cangaço, de acordo com a Cinemateca. Filmes como “Filho Sem Mãe” (1925), “Sangue de Irmão” (1927) e “Lampião, a fera do Nordeste” (1930) apresentaram o nordestern ao Brasil. Com “O Cangaceiro” (1953), de Lima Barreto, o gênero se consolidou. Em 2014, o sucesso de “A Luneta do Tempo” deu continuidade ao trabalho. E agora, o gênero tem retomado o lugar entre as grandes produções desde Bacurau (2019), do pernambucano Kleber Mendonça Filho, premiado em Cannes. Bacurau, de Kleber Mendonça Filho Divulgação Nordestern em evidência A abertura da programação anual de 2023 da Cinemateca Brasileira com exibição de filmes do gênero nordestern parecia prever explosão do gênero este ano. Em agosto, o lançamento da série Cangaço Novo, do Amazon Prime Video, fez vários países colocarem uma produção brasileira e genuinamente nordestina no topo, entre as mais assistidas do canal. Cena de 'Cangaço Novo' Amazon Prime Video/Reprodução Alice Carvalho, potiguar que interpreta Dinorah em Cangaço Novo, conversou com o g1 e afirmou que o reconhecimento dado às produções cinematográficas feitas no Nordeste, principalmente agora, com o sucesso de Cangaço Novo, é fundamental para o cinema nacional como um todo. "Gosto de falar que a gente não inventou a roda. Tivemos um destaque muito importante entre o público, na mídia, com uma série genuinamente nordestina e sertaneja. Mas, existe um movimento que vem acontecendo há muito tempo antes da gente. A gente tem vindo de um levante muito importante, que fortalece o mercado cinematográfico como um todo", disse. Alice Carvalho, atriz potiguar Jorge Bispo/Divulgação/Condé+ A atriz ressalta que a própria vivência na região tem influenciado os trabalhos que ela tem feito dentro do contexto nordestino. Em Cangaço Novo, Dinorah, interpretada por Alice, é uma das protagonistas da trama. "Tenho certeza que minha vivencia na região influencia o desempenho de minha personagem, e ouso dizer que não só a vivência e o convívio com meus pares, mas a vivencia no solo, sentindo o calor, a luz, convivendo com os bichos da região, com as questões geográficas, climáticas, com a organização das cidadezinhas. Tudo isso é importante para o desempenho e processos criativos". Há, também, um debate sobre a participação de atores nordestinos nessas produções por ponta do local de fala. Para Alice, a participação de atores nordestinos ajuda a fortalecer o cinema nacional e internacional. "Em primeira instância, [a participação] serve para alavancar nomes que são tidos como regionais a uma outra ossada de visibilidade, mas acho que isso é importante pro país inteiro. E não só para preservar essa representatividade, mas também ampliá-la com muita consciência de lugar de fala, do respeito que há de se ter pela história e por quem vai contar aquela história. É algo que fortalece nosso cinema como um todo, em grande escala", afirma a atriz. Alice Carvalho também está na novela "Guerreiros do Sol", do Globoplay, que retrata a história de cangaceiros. A história tem gravações em estados como Bahia, Paraíba e Sergipe. O lançamento da produção está previsto para acontecer em 2024. A personagem dela, Otília, contracena com Alinne Moraes. "Otília é um bálsamo, uma menina doce, gentil, forte, extremamente habilidosa, muito intuitivamente conectada com a arte, fascinada. É semi analfabeta da zona rural, que aprende a ler com a personagem de Alinne Moraes, uma intelectual feminista da época. No meio disso elas terminam se apaixonando, em meados de 1920 - 1930, uma história que amplia sua visão de mundo", explica. Cabaceiras, na Paraíba, é conhecida como 'Roliúde Nordestina' Reprodução/TV Paraíba Roliúde Nordestina Com o aumento das gravações nordesterns, a cidade de Cabaceiras, no Cariri da Paraíba, também voltou a receber equipes de grandes produções cinematográficas. João Vitor, secretário de Cultura do município, afirma que o cinema sempre teve um lugar em Cabaceiras. A cidade recebeu gravações da primeira produção audiovisual de “O Auto da Compadecida”, inspirada na obra de Ariano Suassuna, e desde a década de 1930 tem acompanhado a evolução do cinema nacional sendo cenário para grandes produções. "A sétima arte tem seu lugar em nossa cidade há muito tempo, desde a década de 30 que produções são rodadas aqui, mas a que mais marcou e consagrou de fato Cabaceiras como a 'Roliúde Nordestina' foi o Auto da Compadecida. De lá pra cá, muitas outras grandes produções aconteceram", explicou. LEIA TAMBÉM: 'Auto da Compadecida 2' é anunciado; elenco terá Selton Mello e Matheus Nachtergaele Para o secretário, 2023 marca o retorno das produções cinematográficas genuinamente brasileiras após a pandemia. "De forma especial, esse ano de 2023 vem marcando o retorno pós pandêmico, com ao menos duas grandes produções sendo filmadas, outras tantas sendo pensadas e programadas para os próximos anos. Isso tudo nos deixa ainda mais felizes e orgulhosos da nossa terra, prova o quanto a arte e a cultura do nosso povo podem mudar realidades e transformar vidas", relatou. Igreja de Cabaceiras onde acontecem algumas das principais cenas de 'O Auto da Compadecida' Krys Carneiro/g1 Além de Cangaço Novo, do Amazon Prime Video, e Guerreiros do Sol, do Globoplay, Cabaceiras recebe atualmente as gravações da série Maria Bonita, do Star+, que tem nomes como Isis Valverde no elenco. Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba
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