Jackson do Pandeiro: primeira gravação do ‘Rei do Ritmo’ completa 70 anos; conheça


Jackson do Pandeiro completaria 104 anos nesta quinta-feira, dia 31 de agosto, e sucessos em sua voz seguem sendo lembrados. Jackson do Pandeiro nasceu em Alagoa Grande, na Paraíba TV Cabo Branco/Reprodução Quem nunca escutou “Sebastiana”, de Jackson do Pandeiro, e imaginou quem seria essa mulher? O que muita gente não sabe é que, além de ser um clássico escrito por Rosil Cavalcanti, a canção também marcou a carreira de Jackson quando foi gravada, há 70 anos. Neste dia 31 de agosto, Jackson do Pandeiro completaria 104 anos. 📲 Compartilhe esta reportagem no WhatsApp “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti, junto com “Forró em Limoeiro”, de Edgar Ferreira, foram as primeiras músicas gravadas por Jackson do Pandeiro, em 1953, quando o artista tinha 35 anos. Não há como saber a data exata da gravação, mas a partir do ano de registro do disco é possível afirmar que há sete décadas a voz de Jackson do Pandeiro foi eternizada em sua primeira gravação profissional. Na época, as canções foram distribuídas em um compacto de 78 rpm, com “Forró em Limoeiro” no lado A e “Sebastiana” no lado B. Posteriormente, as músicas integraram o álbum “Jackson do Pandeiro com Conjunto e Côro”. Imagem do primeiro disco de Jackson do Pandeiro, com a música "Sebastiana" Arquivo Pessoal/Sandrinho Dupan Sandrinho Dupan, músico, produtor cultural e curador da obra de Jackson do Pandeiro, autor do livro “Jackson do Pandeiro de A a Z”, explica que a gravação das duas músicas veio somente após o sucesso de “Sebastiana”, relatado pelo próprio Jackson em diversas entrevistas. A canção que apresentou o coco e a irreverência do Rei do Ritmo ao mundo foi cantada pela primeira vez para um grande público de forma improvisada no lançamento da revista “A Pisada é Essa!” – um tipo de "prévia" das músicas que seriam o que se conhece hoje como os "hits" do Carnaval de Recife, Pernambuco. Improvisada porque Jackson tinha preparado um repertório carnavalesco, mas o produtor da revista, Amarílio Nicéas, insistiu no coco de "Sebastiana". Na época, Jackson fazia parte do cast de artistas da Rádio Jornal do Commercio. Durante a apresentação, a radioatriz Luiza de Oliveira, que participava da performance, deu uma umbigada em Jackson. Ele respondeu ao movimento coreografado e o público foi ao delírio. Era o início de uma nova era para Jackson do Pandeiro, o Rei do Ritmo. “Jackson falou ‘de umbigada eu entendo’ e deu outra. O público gostou muito e veio ao delírio. No fim da noite pediram para ele tocar mais uma vez, e durante os 28 dias de apresentações ele tocava Sebastiana no mínimo três vezes”, afirma Dupan. Jackson do Pandeiro fazia condução rítmica diferenciada, segundo professores TV Cabo Branco/Reprodução LEIA TAMBÉM: Música 'Sebastiana' nasce no improviso e marca carreira de Jackson do Pandeiro Em sua tese de doutorado sobre Jackson do Pandeiro, Claudio Campos afirma que a primeira performance de Jackson com “Sebastiana” marcou o amadurecimento da identidade cultural do paraibano. O próprio Jackson, inclusive, falou que ao performar “Sebastiana” se lembrou de sua mãe, Flora, e com a música se sentiu à vontade para cantar e dançar da forma que aprendeu em casa. “É como se essa umbigada, da estreia da música Sebastiana, marcasse o amadurecimento da identidade artística do personagem “Jackson do Pandeiro”. Ele saiu daquela apresentação como um novo artista. Mas era um artista que estava em gestação ao longo de todos os seus 34 anos de vida. De José Gomes Filho ele passou a “Zé Jack”, a “Jack do Pandeiro”, a “José Jackson” e, finalmente, mostrou-se inteiro na figura de “Jackson do Pandeiro”, afirma Cláudio no trabalho científico. Sucesso de “Sebastiana” A partir da primeira e icônica apresentação de Jackson cantando “Sebastiana”, a música despontou e teve diversas regravações. Se tornou um grande clássico sempre presente no repertório do paraibano, e anos depois viria a ser “redescoberta” por outros grandes nomes da música brasileira, como Gal Costa. “Quando ele migrou pro Rio de Janeiro a gravadora colocou essa música, que se tornou um grande clássico de seu repertório, com várias regravações. “Sebastiana” e “Forró em Limoeiro” são duas das músicas mais emblemáticas de Jackson”, afirma Sandrinho Dupan. Ainda segundo Dupan, a gravação das músicas em 1953 aconteceu de forma compactada por demanda do mercado musical da época. “A roda gigante do tempo vai se mexendo. Hoje os artistas gravam singles e depois lançam álbuns, antigamente eles gravavam compactos, simples ou duplos, e mais posteriormente gravavam os LPs. Foi assim com Jackson”, explicou. Além da performance de Jackson, o sucesso de “Sebastiana” também é atribuído à própria letra da canção. Ritmada pelo pandeiro do Rei do Ritmo, o famoso “a, e, i, o, u, ypsilone” também foi sucesso na voz de nomes como Gal Costa, que gravou a música em seu primeiro álbum, junto com Gilberto Gil (leia um trecho abaixo). "Convidei a comadre Sebastiana Pra cantar e xaxar na Paraíba Ela veio com uma dança diferente E pulava que só uma guariba E gritava: a, e, i, o, u, ypsilone" Gilberto Gil e Jackson do Pandeiro tocaram juntos em algumas ocasiões TV Cabo Branco/Reprodução Curioridades Sete décadas depois de ser gravada e popularizada por Jackson do Pandeiro, a origem de "Sebastiana" ainda é desconhecida. Rômulo Nóbrega, biógrafo de Rosil Cavalcanti e autor do livro "Pra Dançar e Xaxar na Paraíba: Andanças de Rosil Cavalcanti" relata que durante suas pesquisas não encontrou registros sobre a personagem criada por Rosil e ecoada na voz do Rei do Ritmo. Segundo Rômulo, Rosil Cavalcanti até deu entrevistas sobre a canção, mas não citou sua origem. A viúva do compositor chegou a relatar ao biógrafo, "aleatoriamente", que Sebastiana faria referência "ao povo lá do engenho", mas Rômulo Nóbrega não conseguiu confirmar a informação. "Procurei saber quem era Sebastiana durante as pesquisas, mas não consegui saber até hoje", disse o escritor. Fato é que a música chegou até Jackson do Pandeiro através da amizade dele com Rosil Cavalcanti. Os dois ficaram conhecidos como a dupla "Café com Leite", quando trabalharam juntos na capital paraibana João Pessoa. Pouco tempo depois, Jackson foi para Recife e levou a música "Sebastiana", de Rosil Cavalcanti, tendo a oportunidade de apresentá-la no lançamento da revista carnavalesca. Jackson do Pandeiro Reprodução/Google Passados tantos anos, as primeiras canções eternizadas na voz de Jackson do Pandeiro pelo Brasil afora seguem sendo escola para artistas que o têm como inspiração. Helloysa do Pandeiro, paraibana cantora, instrumentista e finalista do programa The Voice Kids 2021, relata que a essência de Jackson segue presente até hoje nas apresentações dela e de diversos outros artistas. "O som de Jackson sempre fez parte da trilha sonora da minha vida. Lembro direitinho da primeira vez que ouvi a voz dele e foi um amor à primeira nota. Fiquei completamente hipnotizada e fascinada pela forma que ele cantava e misturava os ritmos. Ele não só faz parte das músicas que escolho para o repertório mas também faz parte do meu nome artístico, 'Helloysa do Pandeiro' é uma homenagem ao próprio Jackson. Ele é a essência", afirma. Sobre "Sebastiana", Helloysa reforça que a interpretação da canção por Jackson possui a complexidade musical que ele dominava, e por isso, também segue servindo de base para os primeiros passos de quem deseja seguir os caminhos do Rei do Ritmo. "Essa música possui um lugar muito especial no meu coração porque foi a primeira música dele que aprendi a tocar e através dela pude aprender a complexidade do ritmo encorpado, que é a marca registrada de Jackson", explica. Helloysa do Pandeiro, paraibana que homenageia Jackson do Pandeiro com nome artístico Reprodução/Instagram Neste dia 31 de agosto, quando completaria 104 anos, Jackson segue sendo celebrado. Afinal, um artista irreverente e à frente de seu tempo permanece não apenas na memória, como também segue cravado na história da música brasileira. “Vida longa ao rei, a memória do rei do ritmo. Um artista tão vanguardista, que falou sobre temas extremamente contemporâneos, como transexualidade, na música “A Mulher que Virou Homem”, igualdade de gênero na música “Tem Pouca Diferença”, corrupção no futebol em “A Taça Era Dela”, liberdade dos negros, em “13 de Maio”... Então é um artista que deixa um legado muito grande”, finaliza Sandrinho Dupan. Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba Neste dia 31 de agosto, quando completaria 104 anos, Jackson segue sendo celebrado. Afinal, um artista irreverente e à frente de seu tempo permanece não apenas na memr, como também segue cravado na
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